Por Marcos Aurélio dos Santos
Deus em sua maravilhosa Graça e soberania resolveu
conceder dons aos homens. Em meio à diversidade de dons e ministérios
distribuídos no corpo de Cristo, somos chamados para liderar seu rebanho. Prover
alimento saudável, cuidar dos ferimentos e proteger as ovelhas das feras
predadoras são algumas das responsabilidades do líder.
No entanto, a liderança da igreja brasileira tem grandes
desafios pela frente, pois esta passa por uma crise de identidade quanto as
suas atribuições. Gradativamente nossos líderes têm deixado de observar e
imitar o exemplo daquele que em sua encarnação nos ensinou um modelo de
liderança servidora. Abandonamos a missão de lavar os pés uns dos outros ( Jo.13.14 ).
São várias as causas que levaram a liderança cristã a se
distanciar de seu papel fundamental que é o serviço. Dentre vários podemos
citar:
O tradicionalismo onde se prioriza os ritos, códigos e dogmas
estabelecidos pelo sistema religioso, o centralismo que aponta apenas um
individuo como cabeça e que os liderados devem estar submissos ao seu “comando”,
a proibição da liberdade de pensamento onde geralmente as ideias partem
pré-determinadas por um só e não por uma equipe e o obter vantagens financeiras
em detrimento da fé dos desavisados e desenformados.
Dentre outros motivos, se encontra também a ausência de
ética nas relações e ações das lideranças evangélicas que por sua vez tem
gerado descredito por parte de uma considerável parcela do povo evangélico.
Este perfil de liderança tem acarretado sérios prejuízos
a Igreja do Senhor Jesus, pois este se contradiz com as palavras de Cristo “Apascenta as minhas ovelhas” ( Jo.21.16-17). O centro da crise está na ausência do
apascentar, do serviço, de apontar Cristo como pastor das ovelhas.
Mas Deus em sua infinita misericórdia chama sua liderança
a retornar ao primeiro amor (Ap. 2.4), ele nos convoca ao arrependimento (Mt.3.2).
Nisto habita a esperança a transformação e o servir.
Deus quer transformar sua liderança. Ele ama seu povo e
jamais os deixará dispersos, haverá de levantar, reparar e capacitar líderes
segundo seu coração, com profundo desejo de cuidar, guiar o rebanho,
conduzindo-os a pessoa do Filho, daquele que é o modelo para uma liderança cristã
que transforma.
Nos propósitos do Eterno, está o desejo de contemplar uma
liderança que tem como desafio transformar vidas e comunidades. Uma liderança cristã transformadora tem o desafio de
mudar a realidade. Como líder do rebanho devemos encorajar os liderados para
uma quebra de paradigmas, principalmente na dimensão do serviço, e tudo começa
pela reflexão.
O ponto de partida é refletir sobre a maneira de como as pessoas
estão sendo dirigidas, ensinadas e influenciadas, e, consequentemente desafiá-las
a uma releitura e reflexão das escrituras onde certamente encontraremos a fonte
para as mudanças da realidade existente.
Munido de uma visão renovada e transformadora, o líder
poderá exercer o estilo de liderança proposto por Jesus. Ele disse:
“Então, Jesus, chamando-os para junto de si,
disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados e que os
grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo
aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer
que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em
resgate de muitos.” (Mt 20.25-28).
Liderar é tarefa para quem gosta de servir. São os garçons
do Reino. A virtude do líder não está em sua facilidade de articulação, de
estratégias, de eficácia em gestão, mas em sua capacidade de conduzir o rebanho
até Cristo que é o pastor das ovelhas. Este fica em posição de retaguarda apontando
a pessoa de Jesus para os liderados. A relevância de um líder está em sua
disposição para servir ao próximo expressando o amor de Cristo em atos de misericórdia e justiça.
Os que estão guiando as ovelhas em direção ao Sumo Pastor
cabem a missão de acolher, apascentar, alimentar e cuidar do rebanho. Devem estar dispostos há sacrificar seu tempo para ouvir, aconselhar e encorajar
outros, sofrer o dano, suportar as críticas e criticar, deve sempre usar de
equilíbrio e flexibilidade para resolver questões complexas, oferecer ombro amigo também é tarefa primária do líder. É um exercício de espiritualidade que imita a pessoa do Cristo sofredor.
Para mudar a realidade, é preciso encarnar estes valores
do Reino, acreditando em mudanças e transformações. Liderar à maneira do
Mestre, que se esvaziando de si mesmo, tomou forma de servo, veio como homem
para servir aos homens, veio em carne e em sua humanidade demonstrou de maneira
maravilhosa o amor de Deus fazendo o bem a todos, onde na cruz encontramos a
expressão máxima de seu amor pelo mundo. (Jo.3.16; Fp.2.7)
Líderes que transformam aborrecem todo o tipo de
ostentação e poder, antes amam a simplicidade e o serviço. A articulação da mãe
de Tiago e João, filhos de Zebedeu para garantir um lugar de honra aos seus
filhos e resposta de Jesus nos traz clareza sobre este questão. Mateus nos informa:
“Então,
aproximou-se de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e,
prostrando-se, fez-lhe um pedido. “O que você quer”?”, perguntou ele. Ela
respondeu: "Declara que no teu Reino estes meus dois filhos se assentarão
um à tua direita e o outro à tua esquerda". Disse-lhes Jesus: "Vocês
não sabem o que estão pedindo. Podem vocês beber o cálice que eu vou beber?”
"Podemos", responderam eles. Jesus lhes disse: "Certamente vocês
beberão do meu cálice; mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda
não cabe a mim
conceder.
“Esses
lugares pertencem àqueles para quem foram preparados por meu Pai”. Quando os
outros dez ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos. Jesus os chamou
e disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas
importantes exercem poder sobre elas”. Não será assim entre vocês. “Pelo
contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e
quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt. 20:20-28).
No Reino, a pirâmide é invertida. O líder sempre será o
ultimo e nunca o primeiro. A motivação que nos leva a labutar na obra de Deus
não deve ser uma premiação diferenciada da parte do Senhor, mas a aspiração
para ser servo. Pedir ao Pai que nos conceda privilégios em seu Reino é
insensatez, pretensão ambiciosa, é falta de humildade, é querer se apossar de um trono que já está ocupado desde a fundação do mundo no qual não lhe pertence.
Deus é soberano sobre sua liderança. Todo líder deve ter
consciência quanto ao seu ofício e submissão a Cristo, pois ele disse: “sem ele nada podemos fazer” (Jo.15.15).
É preciso reconhecer nossa fragilidade, limitação e fraquezas para que possamos
exercer com eficácia nosso papel de líder do rebanho.
Discernir com clareza as dimensões de nosso chamado é
tarefa indispensável ao líder. Submeter-se a poderosa mão de Deus em nossas
ações nos faz compreender qual é a boa e agradável vontade de Deus para seu
povo, pois é isso que importa. Este é o desafio: Que o rebanho seja conduzido
não pela nossa força, mas pelo cajado do verdadeiro Pastor e dono do rebanho.
Então, liderar é servir, é encarnar os valores do Reino
para que aconteça transformação. Que o Senhor Jesus por meio de sua soberania e
Graça nos encoraje a liderar à sua maneira, no modelo que foi estabelecido pelo
Pai para sua glória. Amém!
Bom texto. Liderar começa com a forma que lideramos a nós mesmo.
ResponderExcluirSe não conseguimos ser do geito que esperávamos ser, como esperar qur as pessoas sejam do jeito que gostariamos que fossem? Liderar começa em encarnar a pessoa de Cristo. Fora disso é gestão dissociada desse relacionamento tão vital.
Ismael L. Queiroz.
ResponderExcluirO texto esta ótimo e acredito que a proposta de uma liderança não está no individuo, ou seja, esse dom já nasce com ela. Querer dominar sem dom só se for na força, como existem muitos por ai, quer nas igrejas ou em empresas, quer nas missões ou nas vilas existente por ai. O que acontece com os servos do Senhor e citamos aqui um exemplo Moises. Este nasceu já esse dom e teria que ser dessa forma, depois vem, aprimorando aos longos das décadas e venceu com ajuda de DEUS e nem todos gostaram da sua liderança... E o que vamos dizer desses atuais, como vamos aceitar ideias absurdas do que acontecem nos dia de hoje!!! Paz
Excelente texto. Que faz uma abordagem fiel da liderança que consisti no ato do serviço, portanto, servir implica por exemplo: Relação de amor, Cuidado, doação sem barganha, esperança de mudança de consciência do outro sem sua intervenção direta, mas indireta através do exemplo pessoal. Muito bom!
ResponderExcluir