Reflexões

A Fiel Provisão de Deus



"Conhecendo Deus através das dificuldades".

Nosso Deus, não raramente, permite que seu povo passe por dificuldades com o propósito de levá-los a conhecê-lo de uma forma que seria impossível sem aquela experiência. Em seguida, ele se lhes revela como “socorro bem presente na angústia” e traz verdadeira alegria aos corações a cada nova manifestação da fidelidade do Pai. Mesmo conseguindo enxergar uma parte tão pequena dos doces frutos da tribulação, já podemos sentir muitas vezes que não nos privaríamos deles por nada neste mundo. Quanto mais haveremos de bendizer e engrandecer seu Nome quando todas as coisas invisíveis e imperceptíveis forem trazidas à luz!

No outono de 1857, apenas um ano depois de me estabelecer em Ningpo, na China, um pequeno incidente ocorreu que contribuiu muito para fortalecer nossa fé na bondade e no atencioso e vigilante cuidado de Deus para conosco.
Um irmão em Cristo, o pastor John Quarterman, da Missão Presbiteriana do Norte, foi acometido por um caso virulento de varíola, e foi meu doloroso privilégio cuidar dele durante o sofrimento da sua doença até seu funesto final. Quando tudo acabou, era necessário que eu descartasse todas as roupas que havia usado durante o período de contato com o paciente, para evitar a transmissão da infecção a outros. Contudo, sem o dinheiro necessário para comprar outras no lugar daquelas, meu único recurso era a oração.

O Senhor me respondeu por meio da chegada de uma caixa, há muito extraviada, contendo roupas enviadas de Swatow (em outra região da China), no verão do ano anterior. A chegada desta encomenda naquele exato momento tanto foi apropriada como surpreendente, e causou uma doce percepção da provisão soberana do Pai.
Um Canal de Ajuda a Outros

Muitos parecem achar que sou muito pobre. Isto realmente é verdade, num sentido, mas dou graças a Deus porque sou “pobre, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 6.10). E o meu Deus há de suprir cada uma das minhas necessidades, a ele seja toda a glória! Eu não estaria, mesmo se pudesse escolher, em situação diferente daquela em que estou – totalmente dependente do Senhor e usado como canal de ajuda a outros.

No sábado passado, chegou o correio normal da nossa terra natal. Naquele dia, como sempre, havíamos oferecido um café da manhã aos pobres e necessitados, que compareceram num total de setenta pessoas. Às vezes, este número não chega a 40, outras vezes, passa de 80. Oferecemos todos os dias, com exceção do dia do Senhor, pois então não conseguiríamos atender às pessoas e ainda cumprir todas as outras obrigações antes do culto.

Bem, naquele sábado de manhã, pagamos todas as nossas despesas e fizemos a compra para o dia seguinte, o que nos deixou sem um dólar no bolso, nem no meu, nem no bolso do meu companheiro, o Sr. Jones. Como o Senhor haveria de prover para a segunda-feira, não imaginávamos, mas acima da nossa lareira tínhamos pendurado dois pergaminhos escritos em chinês: Ebenézer: Até aqui nos ajudou o Senhor; e: Jeová-Jiré: o Senhor proverá. Assim, permanecemos firmes na confiança e Deus nos guardou de duvidar dele, por um instante sequer.

Naquele mesmo dia chegou uma carta, uma semana antes do que o tempo normal, com um valor de duzentos e quatorze dólares. Agradecemos a Deus e tomamos coragem. O cheque foi levado a um comerciante e, apesar de geralmente levar vários dias para se fazer o câmbio, desta vez ele disse: “Mande buscar na segunda”.

Apesar dele não ter tido condições ainda de comprar todo o valor do cheque, recebemos um crédito de setenta dólares na nossa conta e, assim, tudo deu certo. Como é maravilhoso viver assim, dependendo diretamente do Senhor, que nunca nos falhou!

Na segunda-feira, pudemos dar o café da manhã aos pobres, como era nosso costume, pois não lhes tínhamos avisado para não virem, estando confiantes que era obra do Senhor e que ele proveria. Não pudemos evitar que nossos olhos se enchessem de lágrimas de gratidão, quando vimos o Senhor suprir, não só as nossas necessidades, mas também aquelas da viúva, do órfão, do cego, do coxo, do abandonado e do destituído, através da abundância daquele que alimenta os corvos.

Engrandecei o Senhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome... Oh! provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem. Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará (Sl 34.3,8-10) – e se não é bom, por que o desejaríamos?
Outra Crise

Mas até duzentos dólares não duram para sempre e, lá pelo Ano Novo, os suprimentos estavam acabando outra vez. Finalmente, no dia 6 de janeiro, 1858, só uma moeda restou, a vigésima parte de um centavo, para mim e para o Sr. Jones juntos. Embora provados, olhamos mais uma vez para Deus, para que ele manifestasse seu gracioso cuidado. Encontramos suficiente provisão em casa para prover um magro café da manhã, depois do qual não tínhamos mais nada para o resto do dia e nem dinheiro para comprar alimento algum. Só podíamos recorrer àquele que podia suprir todas nossas necessidades através da petição: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.

Depois de oração e deliberação, pensamos que talvez devêssemos dispor de alguma coisa que possuíamos, a fim de suprir nossas necessidades mais imediatas. Porém, examinando tudo, achamos pouca coisa supérflua ou desnecessária e menos ainda aquilo que os chineses teriam probabilidade de adquirir prontamente. Teríamos direito a crédito, se assim quiséssemos nos valer dele, mas o achávamos contrário aos princípios da Palavra, como também incoerente com a posição em que estávamos.

Tínhamos, de fato, um item que os chineses poderiam ter comprado facilmente: um fogão de ferro. Entretanto, ficamos muito tristes diante da possibilidade de ficar sem ele.

Finalmente, decidimos oferecê-lo e saímos para falar com o fundidor. Depois de andar uma boa distância, chegamos ao rio, que pretendíamos atravessar por meio de uma ponte flutuante de barcos. O Senhor, porém, havia fechado nosso caminho. Na noite anterior, uma tempestade levou a ponte embora e o único jeito de atravessar, agora, era através de uma balsa, que custava duas moedas por pessoa. Como só tínhamos uma moeda, nosso caminho era claramente voltar e esperar a própria intervenção de Deus em nosso favor.

Ao chegar em casa, descobrimos que a Sra. Jones havia saído com as crianças para almoçar na casa de um amigo, um convite feito alguns dias antes. O Sr. Jones, embora convidado também, se recusou agora a ir e deixar-me em jejum sozinho. Então, fizemos mais uma busca cuidadosa em todos os armários; embora nada houvesse para comer, encontramos um pequeno pacote de chocolate em pó, que, dissolvido em água quente, ajudou a nos reavivar um pouco.

Em seguida, clamamos novamente a Deus na nossa angústia, e o Senhor ouviu e nos salvou de todas as nossas tribulações. Pois enquanto ainda estávamos de joelhos, uma carta chegou da Inglaterra contendo uma oferta.
Confiança Abundantemente Recompensada

Esta provisão oportuna não só supriu a necessidade urgente e imediata daquele dia, mas também nos deu confiança para ir em frente com o meu casamento, que estava marcado para duas semanas depois desta ocasião, na confiança segura de que o Deus a quem pertencíamos não nos deixaria envergonhados. E esta expectativa não foi desapontada, pois ainda que nossa fé fosse muitas vezes exercitada, por vezes severamente, nos anos posteriores, ele sempre se provou fiel às promessas e nunca permitiu que nos faltasse bem algum.

Nunca, talvez, existiu uma união que cumprisse mais plenamente a bendita verdade: “O que acha uma esposa acha o bem, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22). Minha querida esposa não foi apenas uma preciosa dádiva para mim; Deus a usou grandemente durante os doze significativos anos que lhe deu para servir numerosas pessoas neste país para onde nos enviou.

Hudson Taylor


Fonte: Jornal Arauto, ano 22, nº4




                                                       


A Arte da Comunhão


"Nessa arte precisamos oferecer o que temos de melhor".
Uma das reclamações mais freqüentes em nossas igrejas é a falta de amizades sinceras, amor verdadeiro, relacionamentos profundos. Podemos ter uma boa estrutura eclesiástica, boa doutrina, boa música, bons programas, mas nada disto é suficiente para atender a necessidade humana de ser amado, aceito, acolhido, reconhecido e valorizado. Por um tempo, os programas ajudam a preencher este vazio, a música parece criar um clima saudável, o trabalho e a participação nos programas dão a sensação de que é disto que precisamos, porém mais cedo do que imaginamos, nos vemos de novo frustrados com a superficialidade afetiva, a hipocrisia dos que nos cercam, a ausência de amizades sinceras e profundas.

A conversão é a transformação do “eu” solitário num “nós” comunitário. É o chamado para sermos amigos de Deus e dos nossos irmãos. As parábolas e imagens do reino glorioso de Cristo sempre envolvem mesas fartas, festas, multidão de todas as línguas, tribos, raças e nações; Paulo nos fala de uma nova família, um corpo; João nos fala de um rebanho e de uma cidade — essas imagens revelam que o reino de Deus é o lugar onde as pessoas se encontram na comunhão festiva com Cristo. 

Porém, para muitos, a igreja não tem sido este lugar; pelo contrário, tem sido um lugar de desilusão, frustração e solidão. Um lugar de mágoas, ressentimentos e traições. Sei que existem aqueles que se sentem acolhidos e amados em suas comunidades, mas esta não é a regra geral. No entanto, mesmo os que se sentem bem nem sempre experimentam uma verdadeira comunhão de amizade e amor.
Grande parte do fracasso na comunhão deve-se aos falsos ideais e às fantasias que projetamos. Para Bonhoeffer, a comunhão falha porque o cristão traz em sua bagagem “uma idéia bem definida de como deve ser a vida cristã em comum, e se empenhará por realizar esta idéia... Qualquer ideal humano introduzido na comunhão cristã perturba a comunhão autêntica e há que ser eliminada, para que a comunhão autêntica possa sobreviver”. Para ele, o ideal que cada um traz para a igreja acaba sendo maior que a própria comunhão e termina destruindo-a.
As imagens bíblicas de banquete, mesa farta cheia de amigos, nos ajudam a refletir melhor sobre o significado da comunhão e da amizade. Quem viu o filme ou leu o livro A Festa de Babette percebe isto. Babette chega a um vilarejo na Dinamarca fugida da guerra civil em Paris e emprega-se na casa de duas filhas de um rígido pastor luterano. As irmãs seguem à risca os rigores da sua fé pietista, que as proíbe de qualquer prazer na vida, sobretudo o material. Um dia, Babette descobre que ganhou um prêmio na loteria e, em vez de voltar para a França, onde havia sido uma exímia cozinheira em Paris, pede permissão para preparar um jantar em comemoração do centésimo aniversário do pastor. 

Sob o olhar suspeito das irmãs, Babette prepara o banquete. Durante o jantar, o sabor de cada prato, o aroma do vinho, o prazer de cada mordida, foi lentamente quebrando a frieza, demolindo as antigas mágoas e transformando aquela mesa num encontro de corações libertos. Quando terminou, uma das filhas, Philippa, assustada pelo fato de que Babette teria usado toda a fortuna da loteria naquele jantar, disse: “Não deveria ter gasto tudo o que tinha por nossa causa”. 

Depois de pensar um pouco, Babette respondeu: “Por sua causa?”, retrucou. “Não, foi por minha causa”. Depois disse: “Sou ma grande artista”. Após algum silêncio, Martine, a outra irmã, perguntou: “Então vai ser pobre o resto da vida, Babette”? Babette sorriu e disse: “Não, nunca vou ser pobre. Já lhes disse que sou uma grande artista. Uma grande artista nunca é pobre”.
Comunhão e amizade é o trabalho de artistas. A riqueza de um artista nasce de sua capacidade de oferecer o melhor. Ao oferecer o melhor que podia, Babette abençoou a si e aqueles que provaram do seu dom. Na arte da construção da comunhão e da amizade, precisamos oferecer o que temos de melhor, seja uma boa refeição ou uma boa música, uma boa conversa ou um lindo sorriso. Não foi isto que Cristo fez?

Ricardo Barbosa de Sousa



Fonte: Revista Ultimato

                                                                 



A Bíblia e a Maturidade Espiritual 


O apóstolo Paulo, ao exortar seu filho na fé Timóteo a combater e resistir aos males e corrupções dos tempos difíceis, o aconselha dizendo: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra" (II Timóteo 3:14-17).

Diante da crise, da confusão instalada e alimentada por homens egoístas, avarentos, arrogantes, ingratos e irreverentes; do abandono da verdade, da perda de significado, da corrupção da mente e do coração e de uma fé confusa, Paulo apela para que Timóteo volte para as Escrituras e que permaneça nelas.

Vivemos hoje um tempo semelhante ao descrito por Paulo no capítulo 3 da segunda carta a Timóteo. Um tempo onde o egoísmo, alimentado pelo individualismo narcisista, desenvolve um modelo de fé num Deus comprometido em nos agradar e satisfazer nossas necessidades mundanas e mesquinhas. Um tempo onde pastores e pregadores estão mais interessados em construir seus pequenos impérios, seduzindo e iludindo homens e mulheres ingênuos, manipulando suas mentes e roubando seus bolsos. Um tempo onde a busca pelo poder, sucesso, admiração e reconhecimento tomaram o lugar da piedade, simplicidade e sensatez. Num tempo assim, precisamos mais uma vez voltar para as Escrituras e encontrar um eixo em torno do qual devemos orientar nossa espiritualidade.

Viemos de Deus e voltaremos para Deus. Somente ele pode dar sentido à vida. Como disse Agostinho no início de suas Confissões: "Fizeste-nos para ti, ó Deus, e nossa alma não encontrará repouso enquanto não descansar em ti". O mesmo apóstolo Paulo também afirmou que nossa vida está oculta em Cristo e que se alguém deseja encontrá-la, deve procurá-la na comunhão com ele. Temos hoje muitas ferramentas que nos ajudam a compreender a complexidade da vida: sociologia, antropologia, psicologia etc; no entanto, nenhuma delas nos levará ao coração dos nossos anseios, senão o encontro com o próprio Deus revelado em seu Filho Jesus Cristo. É por isto que Paulo coloca as Escrituras como a única ferramenta capaz de conduzir o homem à sua plenitude e colocá-lo no caminho das boas obras.

São as Escrituras que tornam o homem sábio para a salvação. Sabedoria não é uma conquista acadêmica, e sim uma dádiva da salvação. A redenção do homem é a obra da graça de Deus que o salva de um mundo que o escraviza. Jacques Ellul descreve a ação salvadora de Deus como um processo que nos liberta de um cativeiro com o qual nos acostumamos e resistimos a sair dele. Ele descreve a ação salvadora como algo muitas vezes catastrófico: "Cada ato de Deus em Jesus Cristo implica, para os homens inseridos no mundo, solidários com o mundo, separados de Deus, em conflito com ele, um aspecto catastrófico.

"O homem é de tal forma presa das potências, de tal forma associado às obras delas, diverte-se de tal forma para proveito delas, deseja de tal forma tudo o que elas oferecem, concebe a tal ponto a sua vida separada de Deus, que qualquer aproximação de Deus, qualquer obra positiva de Deus, lhe aparece como uma perturbação inaceitável e, finalmente, um ataque contra ele mesmo. Quando Deus vem libertá-lo, não percebe absolutamente a sua libertação; protesta contra a ruptura destes maravilhosos objetos que são as suas correntes ou as portas da sua prisão: as correntes adoradas. É bem esta a situação do homem. E devemos compreender que toda obra de libertação é efetivamente destruidora do ambiente mau".

A sabedoria da salvação consiste em reconhecer esta ação salvadora de Deus e aprender a olhar para a vida com os olhos do Criador e, a partir dele, viver a vida liberta. São as Escrituras que orientam e corrigem nossos caminhos. Ignorá-la é entrar numa grande floresta sem bússola, é se aventurar ao mar sem conhecer a astronomia ou os instrumentos que nos guiam na escuridão. Jesus certa vez disse: "Errais, não conhecendo as Escrituras"; erramos e continuaremos errando na medida em que nos afastamos da revelação de Deus em Cristo Jesus. A ignorância da salvação de Deus é o maior inimigo do homem; é a maior causa de conflitos e perturbações da alma.

Reconheço que para muitos o estudo e a meditação na Bíblia é uma tarefa difícil, enfadonha e cansativa. É assim que muitos se sentem, inclusive eu. Preferimos então beber água de segunda mão do que cavar nosso próprio poço. "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste", dizem as Escrituras; noutras palavras, Paulo insiste dizendo: construa sua própria fé, crie raízes para suas convicções, não permita que outros te seduzam com fábulas e fantasias. Por certo, será um caminho que exigirá mais esforço e disciplina, mas é caminho de vida, de justiça e paz. Permaneçam nele, guardem as verdades bíblicas que aprenderam na igreja, nas conversas com irmãos, nas meditações devocionais.

No Velho Testamento somos recomendados a fixar a Palavra de Deus nos umbrais de nossas portas para lembrar dela sempre, que devemos repeti-la quando andamos pelo caminho, quando deitamos ou levantamos. Davi dizia que a Palavra de Deus era como mel para seu paladar e que a desejava muito mais do que um rei desejava o ouro.

Temos vivido momentos difíceis, mas quero aqui recomendar: Leia a Bíblia, não passe um dia sem meditar nela. Pode parecer uma recomendação simplista, mas logo você descobrirá que ela é fonte de uma salvação sábia e que somente através dela é que nos tornaremos aptos e preparados para viver.

Ricardo Barbosa de Souza




                                                                         




 Justificação

"Deus nos vê como pessoas vestidas da justiça de Cristo."
Justificação não significa meramente perdão. Inclui o perdão; no entanto, é muitíssimo maior do que este. Além disso, a justificação afirma que Deus nos declara completamente inocentes, considerando-nos pessoas que jamais pecaram. 



Ele nos proclama justos e santos. Agindo assim, Deus está refutando qualquer acusação que a lei faça contra nós. Não é apenas o juiz, no tribunal, asseverando que o réu está perdoado, mas declarando-o uma PESSOA JUSTA E INOCENTE. Ao justificar-nos, Deus nos informa que removeu nosso pecado e culpa, imputando-os, ou seja, lançando-os na conta do Senhor Jesus Cristo, cas tigando-os nEle. Deus também anuncia que, fazendo isso, lança em nossa conta (ou seja, imputa-nos) a perfeita justiça de seu querido Filho. 



O Senhor Jesus Cristo obedeceu completamente a Lei; jamais a trans- grediu em algum aspecto, satisfazendo-a em todas as suas exigências. Esta completa obediência constitui a justiça dEle. O que Deus faz ao justificar-nos é lançar em nossa conta (ou seja, imputar-nos) a justiça do Senhor Jesus Cristo. Ao declarar-nos justificados, Deus proclama que nos vê não mais como realmente somos, e sim como pessoas vestidas da justiça de Cristo. 


Um hino escrito pelo conde Zinzendorf expressa deste modo a justificação: 


Jesus, tua veste de justiça É agora minha beleza; 


minha gloriosa vestimenta. Entre os mundos flamejantes, 


Envolvido em tua justiça, com alegria eu Te exaltarei.

Martin Lloyd-Jones

                                                               




Pela Graça Através da Fé
                                 
"Vendo a graça de Deus revelada em Cristo Jesus".
Porque Deus é gracioso, os pecadores são perdoados, convertidos, purificados e salvos. Não é por causa de algo neles, ou daquilo que já possa estar neles, que são salvos, mas por causa do amor ilimitado, da bondade, da piedade, da compaixão, da misericórdia e graça de Deus. Descanse um momento no manancial. Veja como o rio puro de águas vivas procede do trono de Deus e do Cordeiro.

Quão vasta é a graça de Deus! Quem pode medir a sua largura? Quem pode sondar a sua profundidade? Assim como todo o resto dos atributos divinos, ela é infinita. Deus é cheio de amor, pois “Deus é amor”. Deus é cheio da bondade; da bondade ilimitada e o amor se encontra na própria essência da Divindade. É porque “a Sua misericórdia dura para sempre” que não somos destruídos. Porque as “Suas compaixões não falham” que os pecadores são conduzidos a Ele e perdoados.

Lembre-se disso ou você pode cair no erro de fixar tanto a sua mente na fé que é o canal da salvação que se esquece da graça que é a fonte e até origem da própria fé. A fé é a obra da graça de Deus em nós. Ninguém pode dizer que Jesus é o Cristo senão pelo Espírito Santo. “Ninguém vem a Mim”, disse Jesus, “exceto aquele que o Pai que Me enviou o atrair”. Assim a fé, que está vindo de Cristo, é o resultado da atração divina. A graça é a primeira e a última causa da salvação, e a fé, essencial como ela é, é apenas uma parte importante do maquinário que a graça emprega. Somos salvos “através da fé”, mas a salvação é “pela graça”. Ecoam estas palavras com a trombeta do arcanjo: “Pela graça sois salvos”. Que boas novas para o indigno.

A fé ocupa a posição de um canal ou tubo condutor. A graça é a fonte e a correnteza. A fé é o aqueduto ao longo do qual o fluxo da misericórdia flui para refrescar os filhos sedentos dos homens. É uma grande perda quando o aqueduto é quebrado. É uma triste visão olhar em torno de Roma muitos aquedutos nobres que não conduzem mais a água para a cidade, porque os arcos estão quebrados e as estruturas maravilhosas estão em ruínas. O aqueduto deve ser mantido inteiro para conduzir a corrente e do mesmo modo a fé deve ser verdadeira e sólida, conduzindo direto até Deus e vindo direto para baixo até nós, para que se torne um canal útil da misericórdia para a nossa alma.

Novamente lembro vocês que a fé é só o canal ou aqueduto, e não a nascente da fonte, e não devemos olhar tanto para ela para exaltá-la acima da fonte divina de toda a bênção que está na graça de Deus. Nunca faça ´cristo´ fora da sua fé, nem pense nele como se fosse a fonte independente da sua salvação. A nossa vida é encontrada no olhar para Jesus, não no olhar para a nossa própria fé. Pela fé todas as coisas se tornam possíveis para nós, contudo o poder não está na fé, mas em Deus sobre quem a fé descansa. A paz dentro da alma não é proveniente da contemplação da nossa própria fé, mas vem a nós Dele que é a nossa paz, da orla de cujo vestuário a fé toca, e a virtude sai Dele para a nossa alma.

A fraqueza da sua fé não destruirá você. Uma mão trêmula pode receber um presente de ouro. A salvação do Senhor pode vir a nós embora tenhamos a fé somente como um grão da semente de mostarda. O poder está na graça de Deus e não em nossa fé. Grandes mensagens podem ser enviadas através de fios delgados e a paz dá testemunho de que o Espírito Santo pode alcançar o coração por meio de uma fé semelhante a um filamento que parece quase incapaz de sustentar o seu próprio peso. Pense mais NAQUELE para quem você olha do que em seu próprio olhar. Você deve olhar para longe até mesmo do seu próprio olhar e ver apenas Jesus, e a graça de Deus revelada Nele.

C.H. Spurgeon 

Fonte:Revista O Vencedor, Editora Restauração.