Por Marcos Aurélio Dos Santos
No período ético da filosofia medieval, o estoicismo como também as demais, epicurismo, ceticismo e ecletismo, exerce influência de certa forma, na questão da ecologia.
A idéia dos ambientalistas de que o homem deve preservar a natureza, para que o homem tenha uma melhor qualidade de vida, provavelmente recebeu influências dessas filosofias.
O epicurismo define a filosofia como a arte do bem viver. E como não há vida além túmulo, o individuo deve buscar por meio desse pensamento desenvolver um estilo de vida sempre numa perspectiva de um final numa esfera material, onde descarta-se a possibilidade de uma metafísica no mundo das idéias. Na filosofia epicurista, a alma, Deus, e tudo no homem terminam com a morte.
Percebe-se que essas filosofias diferem do platonismo onde em sua metafísica, o verdadeiro sentido da vida está no campo das idéias, e, portanto trabalha-se com a possibilidade de uma vida além túmulo onde as almas terão destinos que transcendem a esfera material e terrena.
Na filosofia epicurista, a felicidade está em terminar bem, no fim da sua vida. O esforço está em cuidar da matéria, aproveitar o bem que a vida pode oferecer. Percebe-se claramente que os pensamentos dessas filosofias discordam quase que totalmente dos assuntos escatológicos nos quais estão revelados nas escrituras nos quais apoiamos nossa fé, fundamentada em Cisto Jesus.
A questão ecologia e meio ambiente tem sido pouco, ou porque não dizer, raramente discutida nas igrejas evangélicas. Uma das razões mais prováveis pela qual a questão não é abordada dá-se pelo fato dos escritores tanto do antigo como do novo testamento não terem se preocupado com o tema na época em que a Bíblia foi escrita, e por isso não há textos que tratem da questão de forma especifica. Outra razão seria nossa tendência de focar apenas um lado da moeda, e isso ficou impregnado na história da igreja cristã. Focamos apenas o espiritual, em detrimento do material.
No entanto, acredito que a razão maior da falta de interesse da igreja pela ecologia, seja a nossa falta de bom senso e responsabilidade de cuidar da nossa grande casa, no qual o grande arquiteto criou pela sua poderosa palavra (Gn.1.1-31;Sl.33.6).
Longe de ver Deus em tudo, como no panteísmo, o cristão deve contemplar a gloria de Deus. (Sl 19.11). As florestas, os rios, as arvores, as montanhas, como toda criação, refletem a sua gloria.
Esta contemplação implica em observar refletindo sobre a grande e majestosa criação. A ordem dada ao homem para dominar sobre a criação é equivalente a cuidar, preservar, ser amigo da natureza. Cuidar do grande jardim foi a ordem dada ao homem (Gn.1.28), mas depois da queda, o homem distorceu a palavra que lhe foi ordenada, e portanto, esqueceu-se o bom senso e a responsabilidade de cuidar do que lhe foi entregue.
A busca desenfreada em acumular bens para si, a competição das grandes indústrias, a visão capitalista de países emergentes e a exploração das riquezas naturais por parte dos homens em detrimento do cuidar, resulta em números alarmantes de desmatamento, poluição de rios, e o nosso conhecido aquecimento global.
A meu ver a igreja deve exercer um papel fundamental na questão ecológica. Como propagadora do evangelho e anunciadora da criação, leva em seus ombros, mesmo despercebida, a responsabilidade de educar como também de incentivar os seus membros a contribuir para o bem estar do meio ambiente.
Motivar os crentes a serem ambientalistas em extremo talvez não seja o melhor caminho. Mas atitudes simples podem contribuir para a preservação do planeta. Usar caixas em vez de sacolas em supermercados, separar o lixo reciclável, plantar arvores, denunciar algum tipo de agressão à natureza como o extermínio de arvores em áreas urbanas e economizar água potável.
Nossa deficiência está em muita das vezes, numa tentativa de espiritualizar tudo, desprezando a filosofia, as pesquisas e estatísticas que revelam a cruel realidade de nosso planeta, no qual se percebe um forte indicio de alienação.
É bem verdade que as escrituras revelam a caminhada do homem para um caos, onde na perspectiva escatológica, o homem gradativamente se autodestrói, onde o ápice é a grande tribulação (Mt.24).
O melhor caminho é o equilíbrio onde o cristão deve aguardar os acontecimentos escatológicos, e ao mesmo tempo, assumir seu papel de jardineiro da criação do grande éden chamado terra.
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