Por Marcos Aurélio dos Santos
Em uma reportagem exibida pelo jornal nacional na quarta feira, 24 de agosto de 2011, por mais uma vez fomos informados sobre o caos em que se encontra a saúde em nosso país. Uma mulher grávida de gêmeos teve de ser socorrida pelos bombeiros de frente a um hospital de pronto atendimento, pois lhe foi negado o socorro. O fato aconteceu em Belém, no estado do Pará. Para a tristeza e desespero do casal, ambos os gêmeos nasceram mortos, apesar de que o laudo médico indicou que as crianças já estavam mortas há dois dias, antes do atendimento. Segundo reportagens posteriores, o caso está sendo investigado para ver se houve culpa por parte do hospital.
No dia seguinte, outra reportagem do referido jornal também informou sobre a crise que se encontra a saúde pública no estado do Pará. (Não seria este um retrato da saúde hoje no Brasil?). Como em outros estados a situação é bem semelhante. Super lotação nos hospitais e postos de saúde, falta de médicos e medicamentos, onde há casos em que o paciente teve que levar seringa, pois nos hospitais não havia material disponível, sem falar nas constantes greves funcionários da saúde.
Não é difícil ver em reportagens nacionais, como também em emissoras do estado, pessoas que morrem em hospitais por falta de atendimento. Gente que vai a procura de emergência, acolhimento, socorro, mas lamentavelmente encontra desprezo e falta de respeito pelo ser humano.
A questão da segurança pública também é fato preocupante. As ultimas estatísticas revelam um número assustador no crescimento da violência no país.
Vejamos o que diz este informe do site de notícias g1.com:
Entre 1992 e 2004, houve um aumento em termos absolutos de 7,7 mortes por homicídio por 100 mil habitantes no país. A situação da Região Sudeste chama a atenção. Em 2004, a região apresentou a maior taxa de mortes por homicídios, 32,3 por 100 mil habitantes, acima da média do país, 26,9 por 100 mil. (IBGE)
Estes números revelam a gravidade da situação em que se encontra a segurança em nosso país. Apesar dos números serem referentes ao período de 1992 a 2004, esta estatística aumentou nos últimos anos.
Voltando ao estado do Pará, sua realidade se encaixa perfeitamente nessas estatísticas. Há grande número de pessoas que foram silenciadas por meio de assassinato. pessoas que lutaram por justiça, mas que covardemente tiveram suas vidas ceifadas, como no caso da missionária Dorothy Stang assassinada por fazendeiros no Pará em 2005. Lamentavelmente os culpados estão soltos gerando indignação, revolta e sentimento de impunidade na sociedade.
A multiplicação da violência preocupa não somente sociólogos, mas não muito distante ecoa um grito de justiça por parte sociedade. O clamor de uma sociedade sofrida, desesperada, amedrontada e insegura. Povo que clama por justiça. Famílias que após terem sido reféns de bandidos em suas próprias residências, não encontraram alternativa se não, irem para outro lugar. Pais que perderam seus filhos para o tráfico onde um considerável número de jovens é assassinado por meio do chamado acerto de contas.
A triste realidade da saúde como da segurança revela a gravidade da situação, e conseqüentemente aponta para a falta de compromisso de líderes governamentais quanto ao assunto.
Quem não se lembra da famigerada CPMF, imposto cobrado à sociedade sobre movimentações financeiras (Mais um imposto sobre tantos que pagamos), onde a arrecadação deveria ser destinada à saúde. Anos se passaram, mas nada mudou. A saúde brasileira vai de mal a pior, não se vê mudanças. Mais um imposto que não trouxe benefícios à sociedade.
Percebe-se o descaso e falta de empenho quanto ao assunto. As disputas partidárias, os interesses políticos e eleitoreiros e a demora na aprovação de emendas, empurram o problema com a barriga. Diversos projetos de políticos bem intencionados estão engavetados há anos. Estão sem espaço, sem voz, esquecidos no mar do descaso. Nada se faz enquanto a população sofre, geme e clama por justiça.
O clamor da sociedade manifesta-se de diversas maneiras. Concentrações em frente a órgãos públicos, passeatas reunindo famílias que perderam seus entes queridos em situações que envolveram segurança, saúde seqüestros, desaparecimentos, cidadãos de bem que em atitude de desespero diante de tanta injustiça tomam atitudes extremas, como no caso visto em uma reportagem de nível nacional em que os pais de um jovem estudante de direito, viciado em drogas, tiveram de acorrentá-lo para não perdê-lo definitivamente para o tráfico. É lamentável.
Cabe ainda na questão da justiça social refletir sobre a problemática da assistência ao necessitado. Apesar das declarações do governo federal apresentando relatórios positivos quanto ao combate à fome, e realmente as estatísticas mostram que o número de pessoas beneficiadas pelo projeto fome zero tem crescido, há outra realidade paralela a esta.
Veja o que diz Juçara Fausto em um trecho de seu artigo sobre a fome e a pobreza no Brasil:
A gravidade da situação de miséria de grande parte da população brasileira exige que se repudie com veemência as insistentes tentativas das elites em mitificar o problema. A sociedade brasileira não aceita mais os discursos demagógicos que buscam circunscrever a pobreza a situações e localidades específicas, para depois oferecer soluções eleitoreiras. Tal como o assistencialismo eleitoreiro deve ser rejeitado também o economicismo tecnocrata, igualmente mistificador. (Fonte: coladaweb.com).
Na realidade, números estatísticos não alimentam os pobres e famintos do Brasil. Por traz dos dados revelados pelas autoridades governamentais, existem outros dados que não interessa muito ser divulgado, como a má distribuição de renda em nosso país, onde os 10% mais ricos detém quase toda a renda nacional.
Enquanto a camada elitizada detém a riqueza, cresce o número dos chamados sem: Sem teto, sem alimento, sem acolhimento, sem saúde, sem qualidade de vida, em fim, sem o direito de ser gente.
Diante do caos em que vive a sociedade brasileira quanto ao assunto, espera-se uma reação positiva da parte dos governantes. Bom senso, vontade de fazer, cumprimento da obrigação, certamente é a resposta esperada por uma sociedade que aguarda justiça.
Não muito distante a teologia deve exercer seu papel de cooperadora numa parceria proveitosa junto aos órgãos responsáveis. Nos Evangelhos, Jesus desenvolveu uma teologia não apenas reflexiva, mas também praticada, voltada para uma missão que tinha como alvo alcançar o homem na sua totalidade. Chama-se, a teologia da missão integral. Sua missão principal evidentemente foi salvar o homem por meio do sacrifício vicário tornando o indivíduo uma nova criatura, regenerada e salva pela sua maravilhosa graça (Ef.2.8-9).
No entanto, sua proposta foi salvar o espírito e ao mesmo tempo cuidar do corpo. Alimentando, acolhendo, curando, fazendo o bem (Mt 12.12; At 10:38; Mt 4.23-24; Lc 4:18-19). Ao exemplo do Mestre e Senhor, seus discípulos, em especial o apóstolo Paulo, também se envolveram na missão (Rm 2:7; Gl 6.9-10; Rm 15.26 ;1 Co 16:1-2).
Fazer o bem implica em se doar em benefício do outro. Oferecer ombro amigo, ser solidário, sofrer junto. Tomar como exemplo a missão do grupo de ação social Alimento Solidário http://www.alimentosolidario.blogspot.com/ na cidade de Fortaleza, que leva alimento e apoio espiritual aos moradores de rua, fazendo o bem sem olhar a quem. Isto é teologia da missão integral vivida na prática. Ter espírito acolhedor, livre de todo e qualquer preconceito
Somos desafiados a ouvir o clamor da sociedade e não tapar os ouvidos, mas gritar diante das injustiças sociais exercendo nosso papel de igreja profética, inspirada pelos exemplos dos profetas Elias e João Batista (1 Rs. Cap, 18 e 19) que não se calaram, mas colocaram em risco suas próprias vidas por causa da justiça. A relevância da teologia da missão revela-se quando a igreja faz a diferença como agenciadora da graça de Deus.
Sair para fora das portas, não ficarmos afugentados em nosso gueto eclesiástico, mas partir para o cumprimento da missão. Enfrentar desafios e revestir-se do Espírito para que haja ousadia, submissos numa total dependência de Deus.
Em meio às injustiças ecoa a voz daquele que clama no deserto, a voz do Deus todo poderoso (Lc. 3.4). Que essa voz, a voz da justiça possa ser ouvida por aqueles que lhes foram entregue a árdua tarefa de cuidar de gente. Que o Senhor nos ajude.
Que a igreja volte a ser essência e não aparência..
ResponderExcluirshalom
http://nairmorbeck.blogspot.com/
Tenho que concordar com a Nair, pois as igrejas dos dias de hoje, não estão nem ai com os membros,com as ovelhas perdidas, muitas pregam a teologia da prosperidade,não estão nem ai com o amor ao proximo, ele se perdeu.
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