domingo, 6 de dezembro de 2015

O Reino de Deus e a Criança


Caminhar pela comunidade e construir relações com seus moradores é sempre uma experiência de aprendizado na missão. Não uma simples investigação ou pesquisa sociológica sobre a realidade e contexto do lugar onde nossa igreja está inserida, mas aprender assumindo um compromisso com essas pessoas, ouvindo suas histórias e nos tornamos participantes de suas angústias sofrimento e dor.

Nossa humanidade é encontrada (isto pelo fato dela estar perdida por causa de uma espiritualidade individualista) quando encontramos pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, como nós somos, contudo em situação social bem diferente da nossa. Pessoas amadas por Deus como nós somos amados, pessoas esquecidas por nós, mas que Deus não se esqueceu delas. 


Hoje pela manhã, como de costume fui visitar a comunidade de Jardim Progresso, uma comunidade periférica cheia de desafios missionais. Quando cheguei no protão da casa de Samuel e Socorro, companheiros na missão, logo veio ao meu encontro João Vitor, aluno do Espaço Comunitário, uma criança pobre e que vive em constante situação de risco em um lugar segundo as últimas pesquisas, considerado o mais violento de Natal – RN.


Vitor chegou correndo e alegremente me abraçou perguntando: Pastor! Como o senhor está? Já melhorou? Não está mais doente? Amanhã tem aula?


Ele me perguntou sobre meu estado de saúde porquê na terça não teve vídeo aula pois estava doente. 


Também o abracei e respondi: Sim João Vitor, já estou bem melhor e amanhã haverá aula!

Vitor é um dos alunos que ao decorrer das aulas de letramento tem tido sérias dificuldade de aprendizagem e por isso precisa de atenção redobrada e acolhimento dos professores, pais e irmãos.


Mais tarde comecei a refletir à luz do Reino de Deus sobre aquela cena no portão da casa de Samuel e logo percebi uma denúncia por meio da ação do “pequeno profeta”. Rara são as vezes que nós cristãos adultos demonstramos tanta sinceridade e amor para com o outro, como aquela criança, que em meio a um abraço e acalentos, não me questionou ou julgou porque faltei na aula, mas simplesmente se preocupou com minha saúde física e bem-estar.  


Esta atitude do pequeno Vitor só aumenta minha convicção de que podemos encontrar Cristo na criança e entre os pobres. Entre eles não predomina a disputa de poder, a avareza, a ostentação, o consumismo e outros males encontrados no sistema religioso de nossos dias. Como Diz nosso amado Carlinhos, (parafraseando), “Religião é coisa para adulto, mas o Evangelho de Jesus de Nazaré é para todos, inclusive para criança”.


As palavras de Jesus no Evangelho de Mateus soam em profunda concordância com esta experiência de aprendizado.


Disse o Jesus de Nazaré:


“Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se fazer humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome está me recebendo (Mt.18.3-5). Depois trouxeram crianças a Jesus, para que lhes impusessem as mãos e orasse por elas. Mas os discípulos os reprendiam. Então disse Jesus: Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam, pois, o reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. (Mt,19.13-14).


Ser, isto nos basta para entrar no Reino, a humildade é o eixo, sem humilhação e submissão a Cristo não teremos acesso ao Reino. É uma conversão a Deus e ao outro, à simplicidade, ao serviço, ao amor. Aprendamos com os pequeninos. Receber uma criança equivale e receber Jesus.


Com estas palavras, Jesus nos desafia a aprender o caminho do Reino, e como fazer para entrar nele. Fica claro no texto que não é por meio das manobras dos sistemas da religião que estão implantadas em algumas igrejas de nossos dias, nem por meio de ritos e dogmas que encontraremos a pista certa para entrar no Reino, mas pela capacidade de ser humilde, de se conformar com o simples sem ostentar, mas abraçar, amar, perdoar sem manchas de ressentimentos e liberando compaixão. Então, façamos como uma criança, é isso que Jesus nos ensina em seu Evangelho.



Marcos Aurélio dos Santos
















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