Caminhar pela comunidade e construir relações com seus
moradores é sempre uma experiência de aprendizado na missão. Não uma simples
investigação ou pesquisa sociológica sobre a realidade e contexto do lugar onde
nossa igreja está inserida, mas aprender assumindo um compromisso com essas pessoas,
ouvindo suas histórias e nos tornamos participantes de suas angústias
sofrimento e dor.
Nossa humanidade é encontrada (isto pelo fato dela estar
perdida por causa de uma espiritualidade individualista) quando encontramos
pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, como nós somos, contudo em
situação social bem diferente da nossa. Pessoas amadas por Deus como nós somos
amados, pessoas esquecidas por nós, mas que Deus não se esqueceu delas.
Hoje pela manhã, como de costume fui visitar a comunidade
de Jardim Progresso, uma comunidade periférica cheia de desafios missionais.
Quando cheguei no protão da casa de Samuel e Socorro, companheiros na missão,
logo veio ao meu encontro João Vitor, aluno do Espaço Comunitário, uma criança
pobre e que vive em constante situação de risco em um lugar segundo as últimas
pesquisas, considerado o mais violento de Natal – RN.
Vitor chegou correndo e alegremente me abraçou perguntando:
Pastor! Como o senhor está? Já melhorou? Não está mais doente? Amanhã tem aula?
Ele me perguntou sobre meu estado de saúde porquê na terça
não teve vídeo aula pois estava doente.
Também o abracei e respondi: Sim João Vitor, já estou bem
melhor e amanhã haverá aula!
Vitor é um dos alunos que ao decorrer das aulas de
letramento tem tido sérias dificuldade de aprendizagem e por isso precisa de
atenção redobrada e acolhimento dos professores, pais e irmãos.
Mais tarde comecei a refletir à luz do Reino de Deus sobre
aquela cena no portão da casa de Samuel e logo percebi uma denúncia por meio da
ação do “pequeno profeta”. Rara são as vezes que nós cristãos adultos demonstramos
tanta sinceridade e amor para com o outro, como aquela criança, que em meio a
um abraço e acalentos, não me questionou ou julgou porque faltei na aula, mas
simplesmente se preocupou com minha saúde física e bem-estar.
Esta atitude do pequeno Vitor só aumenta minha convicção de
que podemos encontrar Cristo na criança e entre os pobres. Entre eles não
predomina a disputa de poder, a avareza, a ostentação, o consumismo e outros
males encontrados no sistema religioso de nossos dias. Como Diz nosso amado
Carlinhos, (parafraseando), “Religião é coisa para adulto, mas o Evangelho de
Jesus de Nazaré é para todos, inclusive para criança”.
As palavras de Jesus no Evangelho de Mateus soam em
profunda concordância com esta experiência de aprendizado.
Disse o Jesus de Nazaré:
“Chamando
uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Eu lhes asseguro que, a não ser
que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos
céus. Portanto, quem se fazer humilde como esta criança, este é o maior no
Reino dos céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome está me recebendo
(Mt.18.3-5). Depois trouxeram crianças a Jesus, para que lhes impusessem as
mãos e orasse por elas. Mas os discípulos os reprendiam. Então disse Jesus:
Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam, pois, o reino dos céus pertence
aos que são semelhantes a elas”. (Mt,19.13-14).
Ser, isto nos basta para entrar no Reino, a humildade é o
eixo, sem humilhação e submissão a Cristo não teremos acesso ao Reino. É uma
conversão a Deus e ao outro, à simplicidade, ao serviço, ao amor. Aprendamos
com os pequeninos. Receber uma criança equivale e receber Jesus.
Com estas palavras, Jesus nos desafia a aprender o caminho
do Reino, e como fazer para entrar nele. Fica claro no texto que não é por meio
das manobras dos sistemas da religião que estão implantadas em algumas igrejas
de nossos dias, nem por meio de ritos e dogmas que encontraremos a pista certa
para entrar no Reino, mas pela capacidade de ser humilde, de se conformar com o
simples sem ostentar, mas abraçar, amar, perdoar sem manchas de ressentimentos
e liberando compaixão. Então, façamos como uma criança, é isso que Jesus nos
ensina em seu Evangelho.
Marcos Aurélio dos Santos
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