O plano de Deus era que nós fôssemos sal diluído no mundo e luz brilhando em meio às trevas. Mas, por vezes, parece que muitos de nós fizemos opção por ser luz no clarão do meio dia e sal em meio a tanto sal amontoado.
Nos orgulhamos de não ter deixado o “mundo” nos acometer (e ainda chamam isso de santidade), mas não percebemos que também não invadimos o mundo para que vissem nossa luz e cressem n’Ele.
O evangelho que vivemos parece mais um “gueto cristão”. Nós somos os autores e os consumidores de todo tipo de cultura que produzimos. Nós escrevemos para evangélicos e lemos livros evangélicos comprados em livrarias evangélicas. Nós fazemos músicas evangélicas, escutamos músicas evangélicas e cantamos canções evangélicas.
Ouvi uma moça da igreja uma vez dizer – orgulhosa – que nunca na vida tinha ouvido “música secular”. Eu respondi dizendo que quem não ouve o tipo de música que ela chama de secular, não se torna uma pessoa mais santa do que quem as ouve. Na verdade, quem só ouve musica cristã tem menos cultura do que as demais pessoas que ouvem canções que não falam diretamente de Deus, mas que estão cheias da graça comum vinda d’Ele.
Fato é que a forma com que muitos de nós escolhemos viver o cristianismo, nos transformou em um “gueto cristão”.
A igreja, há algumas décadas, foi para a mídia de rádio fazer programa para evangélicos, para a televisão fazer programas para evangélicos, para a internet fazer sites e blogs para evangélicos, e cada vez menos nossa luz brilha no mundo, e cada vez mais nos tornamos um “reduto cristão”.
Empreendedores fizeram escolas evangélicas, hospitais evangélicos, pensando no público evangélico. Cineastas (americanos) evangélicos produzem filmes para evangélicos.
Poderia citar tantos outros exemplos, para você perceber que somos autores e consumidores de toda expressão de arte ou forma de cultura que produzimos e tudo isso só fez aumentar os muros que nos tornam separados do mundo e assim acabamos sendo luz em meio a luz e sal empilhado.
Muitas pessoas são cercadas na sua grande maioria apenas por amigos evangélicos, as últimas comemorações (aniversários, casamentos…) que tivemos oportunidade de participar foram de evangélicos, e as últimas pessoas que vieram em nossa casa almoçar conosco também foram evangélicas.
Nada disso é ruim, pelo contrário, é ótimo! Mas, desta forma, como verão nossa luz?
Há alguns meses atrás, fui almoçar com um amigo pastor em sua cidade no interior. Como não conhecia a região, falei para ele escolher o restaurante, ao que ele respondeu: “Vamos no restaurante de um pastor amigo meu, eu só almoço por lá”.
Fiquei pensando como seriam fortes o testemunho e a influência desse pastor se ele só almoçasse no mesmo restaurante de um não evangélico.
O projeto de Deus é nos tirar do mundo, nos transformar – em sal e em luz- e depois nos devolver pra ele, transformados, a fim de que creiam no poder transformador do evangelho de Cristo. Porém, nós construímos um gueto e não voltamos para o mundo de onde fomos resgatados.
Alan Corrêa, 34 anos, paulista, pós-graduado em Religião e Cultura. Escreveu o livro “Dissidentes da Igreja”.
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