Por Marcos Aurélio dos Santos
Por várias décadas a igreja brasileira tem vivido uma séria
crise quanto ao seu chamado para realizar a missão de Deus. Individualismo e
omissão são alguns dos fatores que permeiam no seio da igreja. A missão foi
reduzida a um mero esforço de participação contínua das programações internas
voltadas para um cerimonial dominical focado em apresentações musicais, orações,
leitura das escrituras e pregação da palavra. (esta ultima em muito dos casos
deficiente e sem um conteúdo bíblico-expositivo).
A igreja de nossos dias conseguiu substituir seu chamado
para um engajamento missionário, por um ativismo interno gastando tempo e
recursos com programações voltadas de maneira prioritária em festas, retiros,
reuniões administrativas e dentre outras. Isolou-se em um casulo eclesiástico
deixando de perceber e agir ante a realidade que a rodeia, fixando sua visão
missionária em um reducionismo na perspectiva de “ganhar almas”.
A ausência de uma pregação bíblica e expositiva, uma visão
holística quanto à maneira de fazer missão como também a falta de fidelidade a
Deus, tem levado a igreja a um distanciamento de seu compromisso com o próximo
e com o mundo, não enxergando o contexto, desenvolvendo uma visão distorcida
(dualista) em sua cosmovisão, resultado da ênfase na santificação pessoal,
separando a igreja do mundo que consequentemente compromete sua missão de
servir.
Contudo, emerge uma nova esperança. Deus está em missão,
pois sem ele nunca houve e nem haverá. No poder do Espírito Santo a igreja
caminha para uma nova visão, está enxergando novos horizontes, um novo que
convoca a igreja a retornar ao velho, o Velho Evangelho de Jesus Cristo. A
igreja é desafiada ao arrependimento numa petição de perdão a Deus e ao próximo
por muitas coisas que fizemos como também pelo que deixamos de fazer. É tempo
de nos arrependermos, é um retorno ao Evangelho, é preciso voltar ao primeiro
amor.
E eis a razão de nossa alegria e esperança. Muitos têm ouvido
a voz de Deus. Com humildade e quebrantamento de espirito várias igrejas no
Brasil tomaram a decisão obedecer ao chamado de Jesus para serem servas como agentes
de transformação, entenderam seu chamado para ser sal da terra e luz para o
mundo. Atenderam o chamado de Cristo para imitá-lo em sua maneira de viver e
agir ante a um mundo sem Deus.
Muitas de nossas igrejas já entenderam que o Reino é uma
realidade futura, mas também presente. Decidiram sinalizar este Reino numa
atitude de arrependimento e disposição para servir ao próximo, libertou-se dos
grilhões do individualismo e livres estão do calabouço do dualismo. O Espirito
Santo está cumprindo a missão de ensinar a igreja o que Jesus disse e viveu com
os discípulos. Emerge uma nova esperança.
De maneira poderosa e extraordinária Deus está transformando
a nossa liderança. Alguns de nossos líderes (não muitos, pois esta tarefa a meu
ver é a mais difícil e desafiadora), entenderam de fato e de verdade porque
foram chamados. Muitos estão mudando sua maneira de liderar, substituindo um
modelo centralizador (que em alguns percebe-se um comportamento extremamente dominador), por uma liderança
compartilhada, servidora, focada no serviço a Deus e ao próximo. Entenderam que
no reino, pastores que tiverem a pretensão de serem os primeiros, antes sejam
os últimos dentre todos, da mesma forma os que em sua maneira de ver, querem
ser os maiorais, devem tornar-se pequeninos entre os irmãos. Não é este o
modelo de liderança proposto por Jesus, e, claramente evidenciado em seu
ministério?
Muitos dos pastores que conheço já resolveram esta questão.
Entenderam que seu chamado está centrado em um único proposito que é servir.
Optaram por não cativar os lugares de honra, exercem seu chamado não por lucro,
mas por amor e serviço ao próximo, rejeitaram os títulos e bajulações dos
tolos, obedeceram a ordem de Deus de não se apropriar de suas ovelhas, mas de
cuidar de cada uma delas até a vinda do sumo Pastor. Nisto meu coração se
alegra.
Em passos curtos a igreja caminha em direção à missão de ser
parceira de Deus. Em várias regiões do Brasil podemos ver sinais do reino por
meio da Igreja do Senhor Jesus. Locais que deixaram de ser apenas um lugar de
reunião de Domingo para ser também um espaço para atender a comunidade nas suas
diversas necessidades, levam a proclamação das boas novas acompanhada da
demonstração do amor de Jesus, igrejas que tem procurado viver uma
espiritualidade nas dimensões vertical e horizontal, ou seja, num encontro com
Deus, mas também com o próximo.
Algumas dessas igrejas tem se envolvido com o que chamamos
de eco-missão. São comunidades de irmãos e irmãs que se mobilizam em amor para
cuidar do planeta como limpeza de ruas, plantação de arvores, cuidado com o
lixo, plantio de hortas comunitárias e outras ações voltadas para o cuidado da
natureza. Outras têm abraçado a árdua a missão de acolher os marginalizados e
excluídos pela sociedade. Nesta demonstração de amor muitos dos envolvidos em
projetos na comunidade têm entregado suas vidas a Cristo.
Sobre a ação poderosa do Espírito Santo, Muitas das igrejas
têm crescido de maneira integral. Este crescimento tem priorizado não somente
uma elevação numérica de membros para um aumento de estatística, mas seus
esforços concentram-se nas dimensões do crescimento diaconal onde há um empenho
da igreja em ajudar as pessoas em suas necessidades tanto materiais como espirituais,
no crescimento conceitual, focado no conhecimento das escrituras e na fé em
Cristo como também no aspecto organizacional aproveitando de maneira criativa
os recursos que Deus lhes concedeu. Na perspectiva de crescimento integral
dessas igrejas, a questão numérica parte de uma motivação para o cumprimento da
ordem de Jesus a igreja quanto a grande comissão, “Ide e fazei discípulos” e
não apenas uma mera preocupação em acrescentar um número maior de crentes em
sua denominação.
A voz profética da igreja também tem sido um tema discutido
e praticado por algumas igrejas no Brasil. Uma pequena parcela da igreja tem
compreendido o conceito de profecia bíblica e o tem praticado. Em passos
lentos, mas com Esperança e fé, muitos não tem se calado diante das injustiças
e do pecado, denunciado o mal tanto na dimensão pessoal como estrutural. Grupos
de Jovens têm saído às ruas em manifesto
a favor, dos marginalizados, dos oprimidos, de uma política que atenda os
direitos do cidadão, dos que não tem a quem recorrer se não ao Deus de Justiça.
Esta tarefa é por demais relevantes, pois resgata o conceito de justiça
proferida por Jesus e os profetas Hebraicos levando assim a igreja do Senhor
Jesus ao cumprimento de sua missão profética.
Surge uma nova esperança para a igreja, e esta esperança é
Cristo. Sabemos que há muitos desafios pela frente, contudo, é Nele e somente
por ele que a igreja poderá realizar a missão. Deus está em missão e chama sua
igreja para ser cooperadora com ele.
Que Cristo Reine Eternamente, Amém.
0 comentários:
Postar um comentário