quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Liberando o Perdão

Por Marcos Aurélio dos Santos

Perdoar nossos ofensores é sempre uma tarefa fatigante. Isto porque a velha natureza que ainda reside em nós oferece a perigosa sugestão de obstruir o perdão. Petrificamos o coração. Permitimos que o orgulho seja o árbitro na questão. Cedemos dando ocasião à carne (Rm. 8.3). Por muitas das vezes nos afastamos da Graça, possibilitando a ramificação de raiz de amargura no coração (Hb. 12.15).   

Não é difícil encontrar em nossas igrejas pessoas com o ego ferido, carregando ressentimentos de longas datas. Gente mal resolvida, pessoas com extrema dificuldade de se relacionar com os outros. Encontramos também aqueles que aparentemente, de maneira dissimulada liberam “perdão” expressado pelo conhecido “tapinha nas costas”, e em alguns casos com um aperto de mão meio forçado. A dissimulação é também uma sugestão da carne.

São vários os motivos pelos quais somos ofendidos. Alguém que fala mal de nós, que nos furta, nos persegue, nos humilha com palavras, que nos exclui, em fim, há uma infinidade de ofensas que na sua maioria traz transtornos aos nossos sentimentos. Todavia só há uma alternativa na questão. Perdoar de maneira sincera nossos ofensores. 

Não podemos encontrar outra possibilidade porque aquele que nos perdoou nos mandou fazer o mesmo, e como bem sabemos, o discípulo deve obedecer e ser como seu Mestre. Então, devemos perdoar assim como Jesus perdoou. (Col. 3.13; Ef. 4.32).

Ariovaldo Ramos em seu artigo “Perdão”, diz:

“Ofensa é o peso emocional da falta.”

“Um amigo rouba o outro. O roubo em si é um crime, entretanto, o fato, por ter sido levado a efeito por um amigo, tem uma conotação emocional que não pode ser indenizada, é a isso que se chama de ofensa, pois, é de cunho emocional e só se resolve com perdão. Independente da questão financeira ter sido resolvida, se a pessoa prejudicada não perdoar o amigo (porque resta a questão emocional: a pessoa, ao roubar, lesou ao amigo que nela confiava) não haverá forma de se reatar qualquer nível de comunhão.” (Fonte: ariovaldoramos.blogspot.com).

O Perdão é a mola mestre que sustenta os relacionamentos. Não havendo liberação de perdão a relação entre o ofensor e o ofendido torna-se frágil e insustentável. Neste caso, não há nenhuma perspectiva de comunhão, e não havendo comunhão não haverá crescimento que caminha para a maturidade, não havendo crescimento não glorificamos ao Pai.

Liberar perdão não é uma questão de obrigação, mas de Graça. Vejamos as palavras de Jesus em seu diálogo com Pedro.

Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete”.

Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 

O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. “Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários”. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! ’

“Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’”. “Mas ele não quis”. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido.

“Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou”. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? ’ Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. “Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão”. (Mt.18.21-35).

A Resposta de Jesus a Pedro sobre quantas vezes devemos perdoar nosso irmão como também a parábola do servo mau, expressa uma grande verdade na qual nos remete a uma realidade bíblica. Assim como o Senhor perdoou nossas ofensas, devemos perdoar quem nos ofendeu. Não por imposição, mas imitando, expressando o amor daquele que deu sua vida por nós pecadores. É a manifestação da maravilhosa Graça de Deus em nós expressada em amor para com o outro.

A cifra quatrocentos e setenta não é um número total e completo. Na tradição judaica, foi determinado que o ofendido pudesse perdoar seu ofensor no máximo três vezes. Pedro querendo ser generoso sugeriu a Jesus a possibilidade de perdoar até sete vezes. Nesse trecho, Jesus ensina que devemos perdoar nosso irmão não apenas por uma quantidade determinada, mas quantas vezes forem necessárias, na expectativa de que haja arrependimento para o crescimento e maturidade do outro. O pecado da ofensa torna-se pequeno diante da transbordante Graça de Deus. (Rm.5.20; 1Tm. 1.14). 

Semelhantemente o servo malvado deveria perdoar sobre a perspectiva da Graça oferecida por Deus a todos. Ele deveria perdoar os seus conservos não por uma questão de justiça, mas porque foi agraciado pela infinita misericórdia do Eterno.

Perdoar de coração não exige pedido de desculpas por parte do ofensor. Devemos perdoar e pronto. Não lançando em rosto a ofensa colocando-se em posição de vítima, devemos liberar perdão como expressão do amor de Cristo, perdoar como ele nos perdoou, amar como ele nos amou.  

A ausência de perdão pode transformar pessoas felizes em indivíduos cheios de amargor, relembrando de maneira revoltante as mágoas do passado. Caso não aconteça liberação de perdão, correremos o risco de viver entrelaçados sobre as raízes da amargura, refletido em uma vida sublinhada pelo mau humor, doenças, insônia, falta de paciência, isolamento e outros males.

Nas palavras do apostolo Paulo, encontramos o caminho para a prática de uma relação salutar e duradoura entre os irmãos. Ele diz:

“Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo.” (Ef. 4:32).

Devemos perdoar nosso irmão porque Deus antes da fundação do mundo, em sua desmesurável misericórdia enviou o seu Filho Jesus para que no Sacrifício Vicário no madeiro fossem perdoados todos os nossos pecados. A liberação do perdão reflete de maneira pertinente o amor de Jesus em nós. Quem ama perdoa, não guarda ressentimentos, não evoca de maneira constante a ofensa, mas se dispõe a sofrer o dano, se apressa para resolver a questão com o ofensor na espera de reatar os laços do amor fraterno. (Mt. 5.23-26).


Soli Deo Gloria

    
  





 




Um comentário:

  1. Amém. Deus falou comigo muito com esta mensagem. Glória Deus, Glória Deus

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