Por Marcos Aurélio dos Santos
Que dia lindo! Que momentos agradáveis. Pela manhã caminhei
e visitei alguns dos moradores da comunidade de Jardim Progresso. Fui bem
acolhido em meio a recepções simples com afagos, abraços e apertos de mãos.
Tive um momento de prosa com algumas pessoas, acenei para outras e dei um bom
dia. Confesso que sou apaixonado por esta comunidade na qual já caminho a mais
de 10 anos. Fiz muitos amigos e amigas. Conheço vários dos seus moradores e moradoras,
e, uma das coisas que mais gosto de fazer é debruçar meus ouvidos e ouvir suas histórias.
Algumas delas são cheias de alegria e esperança mesmo diante de um contexto de desigualdade
social em que vivem, outras são marcadas por tragédias, dores e perdas. Alguns aparentemente
perderam a esperança, mas não totalmente pois a esperança não morre.
Ao chegar em casa passei a refletir. Então me veio uma
questão. O que Jesus faria como morador da comunidade de Jardim Progresso? Como
viveria? Em que ele ocuparia o seu tempo? Que espaços ocuparia? Não são
perguntas fáceis se enxergarmos somente o Jesus glorificado. Contudo se
olharmos para o Jesus de Nazaré, o Galileu que viveu entre os pobres e favelados
da Palestina encontraremos uma pista. Podemos começar a partir da vida simples
do Deus humano, do homem de Nazaré.
Em Jardim progresso Jesus não habitaria na casa mais
estruturada e segura do bairro, cercada com um grande muro com altura elevada e
portão eletrônico. Sua morada seria uma simples e bonita casa sem muro, com um
belo jardim onde todos pudessem chegar e se assentar junto a ele e ouvi-lo.
Seria uma casa sem porta onde todos poderiam entrar, se aproximar até a sala de
jantar e ao redor da mesa cear junto com ele. Não seria uma casa triste pois
todos se alegrariam de maneira comunitária. Tudo seria comum. Cada um traria um
bocado para juntos partilharem em amor junto à mesa com Ele em meio a abraços e
sorrisos. É a celebração da vida!
Certamente Jesus também não passaria a maior parte do dia
em sua casa. Não hesitaria em caminhar pelas ruas empoeiradas de Jardim
Progresso. Não para passar o tempo ou para descontração, mas para ver, julgar e
agir diante da realidade social, política e econômica da comunidade. Jesus
certamente buscaria em Deus respostas para a atual situação de exclusão de seus
vizinhos e moradores. Iria ao encontro dos mais necessitados e excluídos. Seria
uma prioridade! Não ficaria calado diante da falta de saúde, educação,
alimentação básica, segurança, transporte e moradia. Seria um morador comunitário-libertário
que lutaria pela solidariedade entre as pessoas e pelo amor político. Seria um
morador amável, misericordioso, solidário e cheio de sonhos.
Com as crianças de Jardim Progresso, Jesus agiria da mesma
forma como faria com os adultos. Acolheria todos os pequeninos. Os chamaria
para uma pelada no fim de tarde, envolvia-se com eles em suas brincadeiras, passeava
de bicicleta ou de carroça, assentava-se junto a uma calçada ou debaixo de uma
árvore frondosa para contar e ouvir histórias, ensinava-lhes sobre cidadania,
amor e justiça. Iria até a mercearia ou na padaria do “Boca” comprar pão, bolo
e suco para um lanche da tarde com a meninada e celebraria uma linda ceia
mirim! Convidaria todas as crianças para visitar sua casa, ofereceria um espaço
para que pudessem sentar-se na grama do jardim e ouvir uma linda poesia, um
conto, uma parábola, uma palavra de fé e esperança em um mundo de exclusão e desigualdade.
Diria para eles que deles é o Reino dos céus e que este Reino está presente na comunidade
de Jardim Progresso. Aconselharia aos pequeninos e serem bons alunos na escola
e que fossem obedientes aos seus pais.
Jesus não seria um frequentador fiel do grande templo
central da avenida principal do bairro no culto de Domingo. Não seria mais um
religioso morador de Jardim Progresso. Seu púlpito seria as ruas, esquinas,
escolas, mercearias, barraquinhos, quitandas, paradas do buzão e becos da
comunidade. Não estaria disposto a ser um protagonista de mais uma hierarquia
religiosa no bairro onde os interesses se limitam a lamentável visão de “ganhar
almas”, construção, reformas de templos e disputas acirradas por adeptos para acréscimo
numéricos à suas denominações. Ninguém iria encontrar Jesus assentado em uma
cadeira especial no templo central, pois estaria gastando tempo e energia junto
com os pobres e excluídos.
Jesus de Nazaré nos convida para caminhar com ele em nossas
comunidades. Nos chama para lutar ao lado dos excluídos, acolher a todos, se
alegrar com as crianças e ouvir as pessoas. Jesus nos convida e se assentar com
Ele no jardim da solidariedade, com pé no chão, e juntos construirmos um mundo
melhor onde habite o amor e a justiça.