
Por Marcos Aurélio Dos Santos
“Rogo, pois, aos presbíteros que há
entre vós, eu, presbítero com eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e
ainda co-participantes da glória que há de ser revelada. Pastoreai o rebanho de
Deus que há entes vos, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus
quer, nem por sórdida ganancia, mas de boa vontade; nem como dominadores dos
que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que
o supremo pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”.
(1Pe. 5.1-4).
Para começo de reflexão digo que vivemos em nossos dias uma séria crise quanto à vocação pastoral. Tempos que nos traz à mente a figura do senhor do engenho. Estes dominavam sobre as plantações e fabricação de açúcar no Brasil por volta do século XVI. Os coronéis do açúcar controlaram a economia e a política brasileira por séculos, desde a época colonial, passando pelo império e chegando à república.
Não em nome do açúcar, mas da religião, muitos de nossos
líderes deixaram de ser, ou pelo menos nunca foram apascentadores. Munidos de
um suposto poder (este não provém do Cristo), tornaram-se dominadores do
rebanho, fazendo-os propriedade sua. Enxergam as ovelhas não como um rebanho
que precisa de cuidados, mas como um meio de satisfazer seus desejos e anseios egoístas.
Tudo deve girar em torno deles.
Eles lançaram fora o cajado, preferem as pedras.
Alimento, cuidado com as feridas, abrigo. Tais serviços não estão na agenda dos
“senhores do engenho”.
Líderes dominadores conseguem criar em “suas igrejas” um ambiente de medo e insegurança. De maneira equivocada denominam-se donos do rebanho transformando a comunidade do Cristo em algo semelhante a casarões ou senzalas. Todas as decisões devem passar pelo crivo do senhor do açúcar em detrimento da liberdade de expressão dos fiéis.
A alienação causada pela falta de reflexão das escrituras,
que é de fato resultado do centralismo doutrinário imposto pelo sistema
dominador, produz uma igreja sem espinha dorsal, frágil e sem discernimento,
sem razão para explicar sua fé, vivendo uma séria crise de identidade cristã.
Uma espiritualidade baseada em uma justiça punitiva causa
medo para aqueles que estão sobre o controle dos “senhores do engenho”. Uma
punição que culmina em exclusão e que em alguns casos, a atitude
cruel desemboca em frustração doenças como desânimo e depressão nas ovelhas. A justiça do Reino não concorda com a punição, mas é cheia de misericórdia, acolhimento e apascentamento.
Assim como os coronéis dos canaviais, alguns líderes
evangélicos querem manter o poder, se possível, por tempo vitalício. Não são
poucas as igrejas que estão à beira do túmulo por falta de uma liderança renovada. Gradativamente estão cavando sua própia cova. Enquanto o rebanho geme faminto em busca do pão e da água da vida, a religião e seus
controladores oferecem às ovelhas o fardo injurioso do tradicionalismo acompanhado de
formalidade e legalismo.
É tempo de exortação. Ouvir a voz do Sumo Pastor é preciso. Diante
da crise o supremo pastor nos exorta a retornarmos ao evangelho. Um chamado
para sermos apascentadores do Reino, pastores do e no serviço. Um
apascentamento totalmente desprendido dos métodos da religiosidade, dos títulos,
das cadeiras do poder, dos gabinetes, dos ritos, um pastoreio voltado para o
serviço ao próximo.
Somos chamados para liderar não como gestores e sim como
pastores que cuidam de gente. A prioridade deve ser cuidar de pessoas e não administrar coisas,
afinal, foi por nós que Cristo deu sua vida sob morte de Cruz. Apascentar requer de nós uma
plena consciência do fato de que somente a Cristo e a mais ninguém pertence o
rebanho. Nossa tarefa é cuidar enquanto o Pastor não vem para realizar o
ajuntamento nos quatro cantos da terra e assim habitarmos no aprisco celestial.
A este chamado, nos foi confiado às ovelhas de Jesus, e o
pré-requisito é: “Assim como ele cuida de nós, também devemos cuidar uns dos
outros”. É no exemplo da pastoral de Cristo que poderemos exercer nossa vocação de maneira relevante, na obediência e submissão que em todo tempo esteve em perfeita obediência ao Pai no cumprimento da
missão.
O apostolo Pedro viveu esta realidade na igreja do
primeiro século. Ele exorta os presbíteros a pastorearem de maneira voluntária. Como servos, visto que estes não estão sobre o rebanho, mas no meio deles, “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós," (1 Pe.5.1), devem ser exemplo para o rebanho, pastorear não por torpe ganância, nem como dominadores, seguindo as pisadas do mestre. Pedro entendia o chamado pastoral como uma
vocação para cuidar de gente e não um trampolim espiritual para controlar
pessoas. (1Pe.5.2-4).
No Reino não há lugar para coronéis. Somente um Senhor é quem manda: Jesus de Nazaré, o Senhor dos senhores. Logo, quem tem a pretensão de ser o maior, antes seja o menor de todos, Abrindo mão de ser servido para servir. É a vocação da mordomia, são os garçons no Reino.
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