Por Marcos Aurélio dos Santos
Deus está em missão. Como Igreja do Senhor Jesus, recebemos a
tarefa de reconciliar todas as coisas juntamente com ele. Esta reconciliação acontece
em quatro dimensões na qual o homem deve buscar. Devemos reconciliar-nos com Deus
(espiritual teológica), com o próximo (sócio-cultural), consigo mesmo (soteriológica,
salvação pessoal) e com a natureza (micro-cosmomógica, planeta), pois assim
somente haverá transformação de uma forma integralizada. Na missio dei, a
Igreja deve entender de maneira clara seu papel como agente de transformação,
como sal, dando sabor a um mundo destemperado pelo pecado nas áreas estrutural
e pessoal. Como luz deve resplandecer em um cosmo em trevas.
A comunidade dos santos, corpo de Cristo, noiva do cordeiro,
não foi chamada para ser apenas expectadora da história, mas como o sal que
deve estar fora do saleiro, deve evolver-se para conhecer a realidade da
humanidade no poder do Espírito Santo, encarnando os valores do reino aqui e
agora para que se cumpram as Escrituras quando diz que Cristo é o Senhor de
todas as coisas.
A Igreja que caminha
deve exercer sua vocação de serva, expressando ao mundo a vida e ministério daquele
que a comprou por alto preço. Esta mudança só poderá ser evidenciada por meio
da proclamação e encarnação do Evangelho.
Esta igreja é viva, pois é nutrida por Cristo para sua
glória. É na vida da igreja que a missão transformadora no primeiro momento
acontece. Acredito que o passo inicial para a ação da igreja é arrepender-se do
que ainda não fez, ou deixou de fazer na história em seu chamado para a missão.
É preciso haver quebrantamento, renuncia, quebra de paradigmas, visão renovada
e coragem, tudo na dependência total do Espírito Santo. Como diz um amado
companheiro de missão, “devemos entrar em crise”. Esta ação poderosa do
Espírito tem início com o pastor da igreja, que consequentemente encoraja os
demais compartilhando a nova visão.
Caso não haja um mover do Espírito e uma mudança, tanto nos conceitos teológicos, como na maneira de
realizar a missão, dificilmente a igreja cumprirá a missão de forma
integral.
Como proclamadora do Evangelho do reino, a igreja precisa
encarnar sua pregação. Devemos ir além das palavras, demonstrando o amor de
Jesus em serviço ao outro. Não seria o mínimo que uma pessoa sensata poderia
nos pedir? Ver como é esse Evangelho que anunciamos na prática? Então, ninguém
que for alcançado pelo poder do Evangelho poderá negar que o amor de Jesus
chegou até ele. Isto só acontecerá por meio da encarnação dos valores do reino
de Deus em nós, em atitude de amor ao próximo.
Assim Jesus o fez. Ele pregava e servia. Em sua peregrinação
ministerial, seus ensinamentos não se limitaram somente as pregações da sinagoga
na tarde de Sábado, mas na vida. Na condição de servo serviu a muitos. Andou
pelas ruas e becos, em barquinhos, assentou-se em lugares em que os religiosos
da época passavam de longe. Quebrou preconceitos (no caso da mulher
Samaritana). Seu amor acolhedor recebeu endemôniados, crianças pobres,
prostitutas, leprosos, traidores da pátria e ladrões (publicanos), em fim, como
ele mesmo disse: “Não vim para ser servido, mas para servir”. Uma igreja que
transforma deve ter em seu caráter a vida de Jesus como referencial em sua
missão.
Outra questão bastante pertinente, quanto à missão da igreja,
é a sua vocação no exercício de seu ministério profético. Como igreja somos
comissionados a denunciar as injustiças nas dimensões econômica, pessoal,
social e política. A relevância neste ministério dar-se pelo fato de que a
igreja é por natureza profética estribando-se na pregação e vida de Jesus de
Nazaré. Em concordância, podemos ver esta feita no ministério dos profetas
Hebreus e nos apóstolos. (Veja: Os 4,1-2; Mq 6,11-12; Jo 6.14; Lc 9.19).
Denunciar com voz, como também em nossa maneira de viver o Evangelho do reino,
é o referencial maior de uma igreja profética.
Para que a igreja entenda sua missão de profetizar, é
preciso também mudar sua cosmovisão. Deve libertar-se de sua visão dualista que
por muitos anos na história separou a igreja do mundo. O Foco em extremo na “santificação
pessoal” em detrimento da missão de cuidar das pessoas levou a igreja a uma
compreensão distorcida quanto à sua forma de encarnar a missão bíblica. Esta
postura resultou em um afastamento da igreja quanto ao seu envolvimento em
questões que não fossem no seu ponto de vista, “espirituais”. Ela separou de
forma gnóstica o mundo da Igreja.
É preciso enxergar o mundo sob a ótica do reino de Deus.
Como Senhor de tudo, este reino deve ser manifesto por meio da igreja em todos
os lugares e em todas as dimensões da vida das pessoas. Isto implica no seu
engajamento nas questões sociais, politicas, econômicas, culturais,
espirituais, emocionais etc. Como voz profética contra as injustiças no mundo,
a igreja deve alargar a visão de ver o cosmo como Deus o vê, de forma integral,
na expectativa de reconciliar todas as coisas para sua glória.
A igreja deve enxergar a humanidade com olhar esperançoso,
como lugar de ação do amor de Deus, de maneira positiva, esta atitude de amor
deve contribuir para a promoção da justiça aos desfavorecidos, para restauração
do caído, para o acolhimento dos pobres, para transformação do pecador em
discípulos de Jesus de Nazaré, para temperar com o caráter de Cristo, pois sem
sal não há missão, para iluminar, pois é na luz, que o mundo verá as obras de
Cristo em mim, e em você.
Nossa voz profética deve ecoar sobre todo tipo de injustiça.
Em coro, é preciso falar em favor daqueles que não tem voz, de gente que não
tem a quem recorrer se não ao Deus de misericórdia, gente que sofre não apenas
por ser pobre, mas porque perderam o respeito, a autoestima, a dignidade de ser
gente, o direito, a autonomia. Nossa voz deve ir contra todo tipo de riqueza
que produz a miséria do povo, seres criados à imagem e semelhança de Deus.
A igreja do Senhor Jesus é a agente de transformação nesse
cenário. Seu envolvimento com as necessidades das pessoas, seu chamado para ser
serva, sua voz profética e uma vida sob a direção do Espírito Santo são alguns
dos desafios missionais da igreja de nossos dias. Sua mensagem deve ser
confrontadora, pois o Evangelho tem estes dois referenciais: Ele confronta e
transforma. Que possamos ser todos os dias confrontados pelo poder do Evangelho
do reino.
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