sexta-feira, 20 de junho de 2014

Transformando o Mundo Para a Glória de Deus


Por Marcos Aurélio dos Santos

Deus está em missão. Como Igreja do Senhor Jesus, recebemos a tarefa de reconciliar todas as coisas juntamente com ele. Esta reconciliação acontece em quatro dimensões na qual o homem deve buscar. Devemos reconciliar-nos com Deus (espiritual teológica), com o próximo (sócio-cultural), consigo mesmo (soteriológica, salvação pessoal) e com a natureza (micro-cosmomógica, planeta), pois assim somente haverá transformação de uma forma integralizada. Na missio dei, a Igreja deve entender de maneira clara seu papel como agente de transformação, como sal, dando sabor a um mundo destemperado pelo pecado nas áreas estrutural e pessoal. Como luz deve resplandecer em um cosmo em trevas.   

A comunidade dos santos, corpo de Cristo, noiva do cordeiro, não foi chamada para ser apenas expectadora da história, mas como o sal que deve estar fora do saleiro, deve evolver-se para conhecer a realidade da humanidade no poder do Espírito Santo, encarnando os valores do reino aqui e agora para que se cumpram as Escrituras quando diz que Cristo é o Senhor de todas as coisas.  

A Igreja que caminha deve exercer sua vocação de serva, expressando ao mundo a vida e ministério daquele que a comprou por alto preço. Esta mudança só poderá ser evidenciada por meio da proclamação e encarnação do Evangelho.

Esta igreja é viva, pois é nutrida por Cristo para sua glória. É na vida da igreja que a missão transformadora no primeiro momento acontece. Acredito que o passo inicial para a ação da igreja é arrepender-se do que ainda não fez, ou deixou de fazer na história em seu chamado para a missão. É preciso haver quebrantamento, renuncia, quebra de paradigmas, visão renovada e coragem, tudo na dependência total do Espírito Santo. Como diz um amado companheiro de missão, “devemos entrar em crise”. Esta ação poderosa do Espírito tem início com o pastor da igreja, que consequentemente encoraja os demais compartilhando a nova visão.

Caso não haja um mover do Espírito e uma mudança, tanto nos conceitos teológicos, como na maneira de realizar a missão, dificilmente a igreja cumprirá a missão de forma integral. 
Como proclamadora do Evangelho do reino, a igreja precisa encarnar sua pregação. Devemos ir além das palavras, demonstrando o amor de Jesus em serviço ao outro. Não seria o mínimo que uma pessoa sensata poderia nos pedir? Ver como é esse Evangelho que anunciamos na prática? Então, ninguém que for alcançado pelo poder do Evangelho poderá negar que o amor de Jesus chegou até ele. Isto só acontecerá por meio da encarnação dos valores do reino de Deus em nós, em atitude de amor ao próximo.

Assim Jesus o fez. Ele pregava e servia. Em sua peregrinação ministerial, seus ensinamentos não se limitaram somente as pregações da sinagoga na tarde de Sábado, mas na vida. Na condição de servo serviu a muitos. Andou pelas ruas e becos, em barquinhos, assentou-se em lugares em que os religiosos da época passavam de longe. Quebrou preconceitos (no caso da mulher Samaritana). Seu amor acolhedor recebeu endemôniados, crianças pobres, prostitutas, leprosos, traidores da pátria e ladrões (publicanos), em fim, como ele mesmo disse: “Não vim para ser servido, mas para servir”. Uma igreja que transforma deve ter em seu caráter a vida de Jesus como referencial em sua missão.   

Outra questão bastante pertinente, quanto à missão da igreja, é a sua vocação no exercício de seu ministério profético. Como igreja somos comissionados a denunciar as injustiças nas dimensões econômica, pessoal, social e política. A relevância neste ministério dar-se pelo fato de que a igreja é por natureza profética estribando-se na pregação e vida de Jesus de Nazaré. Em concordância, podemos ver esta feita no ministério dos profetas Hebreus e nos apóstolos. (Veja: Os 4,1-2; Mq 6,11-12; Jo 6.14; Lc 9.19). Denunciar com voz, como também em nossa maneira de viver o Evangelho do reino, é o referencial maior de uma igreja profética.  

Para que a igreja entenda sua missão de profetizar, é preciso também mudar sua cosmovisão. Deve libertar-se de sua visão dualista que por muitos anos na história separou a igreja do mundo. O Foco em extremo na “santificação pessoal” em detrimento da missão de cuidar das pessoas levou a igreja a uma compreensão distorcida quanto à sua forma de encarnar a missão bíblica. Esta postura resultou em um afastamento da igreja quanto ao seu envolvimento em questões que não fossem no seu ponto de vista, “espirituais”. Ela separou de forma gnóstica o mundo da Igreja.

É preciso enxergar o mundo sob a ótica do reino de Deus. Como Senhor de tudo, este reino deve ser manifesto por meio da igreja em todos os lugares e em todas as dimensões da vida das pessoas. Isto implica no seu engajamento nas questões sociais, politicas, econômicas, culturais, espirituais, emocionais etc. Como voz profética contra as injustiças no mundo, a igreja deve alargar a visão de ver o cosmo como Deus o vê, de forma integral, na expectativa de reconciliar todas as coisas para sua glória.

A igreja deve enxergar a humanidade com olhar esperançoso, como lugar de ação do amor de Deus, de maneira positiva, esta atitude de amor deve contribuir para a promoção da justiça aos desfavorecidos, para restauração do caído, para o acolhimento dos pobres, para transformação do pecador em discípulos de Jesus de Nazaré, para temperar com o caráter de Cristo, pois sem sal não há missão, para iluminar, pois é na luz, que o mundo verá as obras de Cristo em mim, e em você.

Nossa voz profética deve ecoar sobre todo tipo de injustiça. Em coro, é preciso falar em favor daqueles que não tem voz, de gente que não tem a quem recorrer se não ao Deus de misericórdia, gente que sofre não apenas por ser pobre, mas porque perderam o respeito, a autoestima, a dignidade de ser gente, o direito, a autonomia. Nossa voz deve ir contra todo tipo de riqueza que produz a miséria do povo, seres criados à imagem e semelhança de Deus.

A igreja do Senhor Jesus é a agente de transformação nesse cenário. Seu envolvimento com as necessidades das pessoas, seu chamado para ser serva, sua voz profética e uma vida sob a direção do Espírito Santo são alguns dos desafios missionais da igreja de nossos dias. Sua mensagem deve ser confrontadora, pois o Evangelho tem estes dois referenciais: Ele confronta e transforma. Que possamos ser todos os dias confrontados pelo poder do Evangelho do reino.
           


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