quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Religião do Uso e o Abuso da Religião

Por Alan Corrêia 

A religião atual se tornou demasiadamente utilitarista. As pessoas fizeram da religião um caminho que soluciona, que resolve e que nos absorve das aflições do mundo. Ainda existem religiões convidativas a um encontro com o Sagrado. Mas a presença dos segmentos religiosos mercadores da fé são evidentes e crescentes. Como diz um amigo meu (Fernando Oliveira), as propagandas das igrejas se assemelham as dos bancos, oferecem tudo a custo insignificante. Suas promessas são múltiplas e abrangentes. As pessoas apostam religião para promoverem a imunidade dos males da vida, ingressam em seus ritos para garantir bens materiais, necessidades imediatas.

“Ao menos na tradição cristã, a religião é uma relação com o Absoluto, com o Transcendente, com o Deus Criador e Pai. Religião só pode vir acompanhada de “temor de Deus”, com a consciência de que a Ele devemos obediência, adoração. A religião atual, ao menos na versão corrente, é uma inversão dessa atitude. Não é tanto servir a Deus quanto, em certo sentido é servir-se de Deus” (Pe. Alberto Antoniazzi). 

Com o advento do neopentecostalísmo em décadas passadas e sua irrupção no meio de comunicação televisivos miríades de seguidores acharam na religião uma oportunidade de transmudar Deus em um gênio da lâmpada. Essa inversão de valores não se dá tão somente nos arraiais protestantes (em seu porões neopentecostais) como também podemos notar similaridades interes no movimento carismático do catolicismo.

A pouca adoração proposta em muitas dessas igrejas da atualidade, não é fomentada por ação de graças, mas motivada em barganhar com Deus, as pessoas aniquilaram seu senhorio, e ultrajaram de vestes serviçais e o subjugaram em um eterno lavador de pés.

Seria possível ao que foi criado exigir daquele que o criou a manutenção da vida?

O fato de entendermos que Deus pode fazer todas as coisas dar-nós o poder de o obrigá-lo a fazer?

Onde colocaram o “seja feita a sua vontade” em suas orações?

Orar não seria comungar ao invés de ordenar?

É verdade que nos últimos tempos o ser humano evoluiu e muito o conhecimento, e aplicou suas ciências e experiência para tornar a vida mais fácil menos ardida, investiu suas forças em aprumar seus caminhos de subidas e apaziguar suas tempestades interiores.

O homem dominou os animais, navegou oceanos desconhecidos, atravessou continentes em pássaros de ferros, transplantou órgãos, criou vacinas imunizando massas contra tétano, coqueluche, ergueu arranhas céus para morar, passou mares com pontes, e tantas outras coisas e ainda torna tudo isso cada dia mais veloz, entretanto ainda hoje o ser humano se depara com o intransponível e nessa hora busca o Transcendente, e o faz certo de que Ele o atenderá, mas Deus tem suas vontades e nem sempre essa é análoga a do homem, antes se orava por misericórdia hoje a oração é como um mandato de justiça.

Ordenam a Deus como se existisse uma lei que o pudesse reger. Será que a lei dos homens poderia obrigar aquele que criou as leis da natureza? Sendo que até das leis da física ele se fez exceção?

Resta-nos tão somente a esperança do alaridos dos verdadeiros profetas, os remanescentes que não estão algemados ao deus mamon.  Encontrar aqueles que tão somente enaltecem o Criador, exige dos críticos, hoje, a lanterna de Diogenes.

Alan Corrêa é também autor do livro: Dissidentes da Igreja

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