Por Marcos Aurélio dos Santos
Vivemos dias difíceis. Enfrentamos séria crise no meio
evangélico quanto ao contentamento no que se refere às coisas temporais.
Bens, saúde, estabilidade financeira e outras coisas
mais, limitadas a esfera temporal e terrena. A valorização das posses atropela
o bom senso e o contentar-se com o que temos sem reclamar.
Por muitas vezes nossas orações refletem esta
realidade. Petições em que o individuo motivado pela relação do ter (Relação que
ver Deus apenas como fonte de consumo) pede para si, raramente para o próximo
onde geralmente os pedidos estão relacionado a bênçãos materiais. É uma oração
que não enxerga o por vir, o celestial, o Reino, mas apenas o aqui e agora.
Esta crise vem se alastrando de tal forma, que não é
somente encontrada no neo-pentecostalismo trazido pelas igrejas americanas da
prosperidade, mas já está bastante presente no meio pentecostal e em outros
seguimentos.
Não queremos dizer com isto que o cristão não possa
possuir bens. Trabalhar honestamente,
administrar com equilíbrio as finanças e ser negociador honesto, certamente
resultará em benção e prosperidade financeira. Mas fazendo tudo com total
dependência do Espírito, refletindo sobre as palavras de Jesus que diz que nem
só de pão viveremos, mas do alimento com nutrição espiritual (Mt.4.4) vigiando,
colocando a busca do Reino de Deus como prioridade, não deixando que os bens
materiais seja o tesouro do nosso coração (Mt.6.21;33).
O apostolo Paulo ao escrever sua carta aos irmãos da
igreja de Filipos, quando se encontrava em algemas, Possivelmente em Roma,
expressa sua gratidão a Deus dizendo que as experiências vividas por ele após
sua conversão, ensinaram-lhe a viver contente em toda e qualquer situação.
Expondo seu coração aos irmãos daquela igreja, Paulo diz que já teve
experiências tanto de fartura como de fome, assim como de abundancia, como de
escassez (Filipenses. 4.11-12).
A busca do contentamento exercida por Paulo tinha suas
raízes fundamentadas naquele que o fortalecia. Ele diz: Tudo posso naquele que
me fortalece. (Filipenses. 4.13). Essa
frase citada por Paulo, revela que todo o suprimento material de que ele
precisava, vinha de Deus. Para ele, situações como fome, doença naufrágio e
dentre outras, eram superadas pelo poder fortalecedor do Senhor Jesus. Paulo
entendia que em situações de crise, deveria estar totalmente dependente do Deus
que supria suas forças nos momentos de fraqueza.
Em nossa busca desenfreada pelo material, não há lugar
para o contentamento e passamos a confiar em nossas própias forças. Somos
inevitavelmente influenciados pelo espírito capitalista de nossa época. Somos
consumistas compulsivos, indivíduos sem limites, Tudo para nós parece
necessário, tudo é atrativo. Nossas relações com o próximo por muitas vezes é
baseada no que ele possui, e não no que ele é. Valorizamos bens materiais,
desprezamos pessoas, rejeitamos o necessitado, vidas que Cristo comprou com seu
sangue precioso.
Há extrema urgência em retornarmos às escrituras e
refletir sobre o ensinamento do contentamento ensinado por Jesus e seus
apóstolos.
Em sua primeira carta escrita ao seu filho na fé
Timóteo, Paulo mais uma vez expressa seu pensamento a cerca do contentamento
(gr.autrarkeia= suficiência). Paulo agora aconselha Timóteo a trilhar pelo
mesmo caminho. Ele diz que é de fundamental importância, como também de grande
valor, a piedade acompanhada de contentamento (1 Tm.6.6), e que a relação pelo
qual devemos buscá-la, dar-se pelo fato de que tudo isso é temporal, pois nada
temos trazido para o mundo, nem ciosa alguma podemos levar dele (1Tm.6.8).
Paulo não está incentivando Timóteo a ter uma vida de
itinerante, desprovido de todo tipo de bens materiais, mas alerta seu filho na
fé, a não cair na armadilha do amor à riqueza, que é perigoso. Sua preocupação
não era com a qualidade de vida que os crentes daquela comunidade deveriam ter,
mas levá-los a buscar o contentamento para que a fé em Cristo fosse preservada
(1Tm.6.9-10).
Não muito distante, muitos de nós cristãos precisamos
refletir sobre as palavras de Jesus, quando disse que as raposas têm covis, as
aves do céu, ninhos, mas o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
(Mt.9.58).
É engano pensar que ser discípulo é sinônimo de vida
confortável com fartura de bens e sem possibilidade de sofrimento. Os interessados
em segui-lo numa perspectiva de receber algo em troca, sofrearão grande
frustração, pois Cristo chama os que estão dispostos a renunciar tudo quanto
tem (bens materiais) e até mesmo a própria vida em prol do reino de Deus, e
isso requer total desprendimento de coisas materiais. (Ver Lc 14.33; Mc 8.35).
O ensinamento de Jesus no sermão do monte sobre o reino
de Deus, aponta para uma esfera espiritual, totalmente fora de uma visão
terrena e humana (Mt. Cap.5-7).
Que possamos refletir também sobre as palavras de Jesus
quando ele disse que não devemos estar ansiosos quanto a nossa vida quanto ao
que haveremos de comer e vestir (Mt.6.25-34).
Pergunto, como disse o próprio Jesus: Não somos mais
valiosos do que os pássaros do céu? Não somos vais importantes do que os lírios
do campo? O valor do corpo está em sua ressurreição no grande dia da vinda do
Senhor Jesus. O da vida está na esperança, no que está por vir.
O contentamento é encontrado quando se percebe que a
prioridade da busca é o Reino de Deus e a sua justiça, e o material é suprido
de forma natural (Mt.6.33). Vivemos o prenuncio desse Reino. Devemos buscar
intensamente a sua justiça. O contentamento não deve está naquilo que Deus nos
dá pela sua maravilhosa graça, mas pelo que ele é, e nas suas promessas que
haverão de se cumprir na sua vinda.
Somos desafiados a trilhar no caminho do contentamento.
Longe de nós deve estar a queixa, a ansiedade, o descontentamento, pois Cristo
é a nossa provisão.
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