quarta-feira, 23 de maio de 2012

Porque a Expressão de Fé da Igreja de Cristo no Brasil é Histórica-Calvinista

Por José Egberto Sátiro de Moura


Para compreendermos bem a expressão de fé da Igreja de Cristo no Brasil, precisamos entender a diferença entre Luteranismo e Calvinismo. Tanto um quanto outro fazem parte da Igreja histórica e reformada. A formação de Martinho Lutero foi feita de filosofia e teologia; Calvino recebeu uma formação humanís-tica, era de família camponesa, mas, o pai de Calvino era um tabelião que fez do filho um membro da classe profissional.

Enquanto João Calvino foi organizador por excelência do protestantismo, Martinho Lutero foi a sua voz profética. Lutero era fisicamente forte, enquanto Calvino teve de enfrentar problemas de saúde durante todo o seu período de trabalho em Genebra.

Martinho Lutero amava o lar e a família, ao passo que Calvino preferia o estudo solitário. Lutero vivia na Alemanha monárquica, e esperava o apoio dos aristocratas e príncipes; Calvino, numa Suíça republicana, interessava mais pelo desenvolvimento de uma igreja governada representativamente.

Enfim Lutero e Calvino diferiam tanto teologicamente quanto pessoalmente. Lutero enfatizava a Pregação; Calvino preocupava-se com a formulação de um sistema formal de teologia. Os dois aceitaram a autoridade da Bíblia, só que a ênfase maior de Martinho Lutero era sobre a justificação pela fé e a de Calvino, sobre a soberania de Deus. Lutero rejeitava o que a Bíblia não aprovava; Calvino rejeitava o que não pudesse ser provado na Bíblia.

Lutero aceitava a predestinação dos eleitos, mas se preocupava muito pouco com a eleição para a condenação. Calvino, por sua vez, defendia uma eleição dupla, para salvação e para condenação, baseada na vontade de Deus, e rejeitou qualquer concepção da salvação como fruto do mérito do eleito ou da presciência de Deus, como se Deus elegesse para a salvação aqueles que ele sabia de antemão que creriam.

Tanto Lutero quanto Calvino conheciam bem as posições bíblicas e filosóficas de Santo Agostinho de Hipona. Desde o Século XVI, com o movimento da Reforma os cristãos reformados aprenderam a resumir a doutrina da salvação em cinco pontos doutrinários que é histórica e calvinista, e nesse contexto Calvino foi quem teve a oportunidade de sistematiza-las. No entanto a nossa base doutrinária não foge desse padrão.

Quando fazemos um paralelo da doutrina reformada com os principais pontos doutrinários da Igreja de Cristo no Brasil, chegamos à conclusão que os nossos pioneiros estavam convictos da base de fé reformada. Esta não é diferente da que nós defendemos: vejamos os cinco pontos doutrinários calvinistas e os principais pontos da nossa expressão de fé: Primeiro, a depravação total do homem. Esta doutrina bíblica ensina que todos os homens são pecadores e estão destituídos de qualquer bondade espiritual. Todos pecaram e destituídos estão dada glória de Deus (Rm 3.9-23; Sl 14; Mc 7.21-23) Sob o pecado estão mortos espiritualmente, corrompidos e não podem realizar qualquer bem ou mesmo voltar-se para Deus.

De acordo com o quinto ponto da nossa expressão de fé, cremos na pecaminosidade universal e a culpabilidade de todos os homens desde a queda de Adão início da ira de Deus e a condenação de todos os homens, e citamos uma base bíblica que não é diferente: vejamos que a argumentação tem uma boa base bíblica. Gn 2.16-17; 3.1-24; Rm. 3. 9-23; 5.12-21; 6. 23; Hb. 9.27. Vale resaltar que é uma doutrina defendida desde Santo Agostinho até a sistematização de Calvino.

Em segundo lugar a doutrina calvinista defende a eleição incondicional, nossa Igreja defende justamente a mesma base doutrinária. Esta doutrina permeia toda Bíblia predestinação refere-se ao propósito soberano de Deus, de predestinar àqueles homens que serão salvos (Rm 8.29; 9.11-13; Ef 1.9-11). A predestinação é a base da salvação e inclui a eleição e reprovação.

Neste ponto da eleição incondicional, também a nossa doutrina não é diferente. Na nossa expressão de fé, no primeiro ponto doutrinário cremos na justificação pela fé, salvação eterna do crente, sem concurso do mérito próprio. A justificação do pecador é somente pela graça de Deus, na suficiência do sangue remidor de Jesus Cristo, com eterna segurança do cristão. Citamos Jo 10.27-29; Rm 8.1-2, além dos versos 31-39 de Romanos e Ef 2.1-9. O segundo ponto de nossa expressão de fé também faz parte dessa eleição incondicional, notemos que temos apenas mais referencias bíblicas sobre o assunto abordado nos mesmos livros do Velho e Novo Testamento.

Em terceiro lugar a expiação limitada é o terceiro ponto apresentado na doutrina calvinista. Esta doutrina afirma que Jesus Cristo morreu para salvar suas ovelhas, ou seja, os eleitos de Deus e não pelo mundo inteiro. Aqueles por quem sofreu e morreu são chamados de minhas ovelhas. (Jo 10.11,26); sua Igreja (Atos 20.28; Ef 5.25-27). Nesse ponto também não somos diferentes.

No sexto ponto doutrinário da nossa base de fé, vejam o que dizemos: Cremos na redenção da culpa, pena, domínio e presença do pecado, somente por meio da morte expiatória do Senhor Jesus Cristo, no Sangue do Unigênito Filho de Deus, nosso representante e substituto. Rm 3.24; 4.25; 5.6-10; e I Co 1.30 e 15.50-57. Observem que o que dizemos é como se estivéssemos respondendo a questão acima que é um dos pontos calvinista.

José Dantas filho, Pastor da Igreja de Cristo em Mossoró Rio Grande do Norte, ao se referir sobre os motivos que levaram a saída dos pioneiros da Assembleia de Deus, relatou no livreto Bosquejo Histórico falando sobre a história dos evangélicos em Mossoró. Ele afirma respondendo ao que pensavam os pioneiros que o crente é justificado pela fé em Cristo Jesus segundo Rm 5.1-2, sendo assim o crente está salvo para sempre, ainda que venha cair em erros, como aconteceu no passado com vários servos de Deus, e ainda acontece hoje com muitos deles, o Senhor Jesus Cristo mesmo garantiu esta certeza de salvação aos que nele cressem quando declarou as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Jo 10.27-28. Assim, o crente pode, devido as suas fraquezas espirituais, cair em pecado, desviar-se dos ensinos cristãos, mas não perderá a salvação que lhe foi outorgada gratuitamente pelo Filho de Deus mediante a fé depositada em Jesus Cristo e no seu sacrifício realizado na cruz do Calvário em favor do próprio pecador perdido em seus pecados.

Ele afirma de acordo com essa doutrina que se fosse possível perder a salvação e adquiri-la de novo mais tarde, como pregam alguns, também seria necessário haver um novo nascimento, ou mesmo terceiro ou quarto, conforme o caso, o que é totalmente impossível à luz do Novo Testamento. Esta segurança eterna da salvação do crente é ainda confirmada na palavra de Deus em textos como os de Jo 3.16 e 36; 5.25-26, além de outros versículos que tiram muitas dúvidas acerca do assunto inserido no Novo Testamento.

Nesse contexto ele relata: O que acontece com o crente desviado da sua fé, ou na sua conduta cristã, é que ele um dia, sinceramente arrependido do seu erro praticado, voltará, como aconteceu com o filho Pródigo da parábola contada por Jesus Cristo em Lucas 15. 11-32, a casa do seu pai e será maravilhosamente recebido por ele, de braços aberto, completamente perdoado com muita alegria, continuando salvo como antes de se afastar-se da vida cristã normal. Ele conclui que diante de tais ensinamentos sobre a salvação do crente genuíno, o grupo entrou em desacordo com a doutrina pentecostal aceita pela Assembleia de Deus, da salvação Transitória. 

O quinto ponto doutrinário calvinista é a perseverança dos santos, ou segurança eterna justamente como nós cremos: este ponto sugere que aqueles a quem Deus chamou para salvação, e depois, a comunhão eterna com ele (santos segundo a Bíblia) não podem cair em desgraça e perder sua salvação. Mesmo que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua profissão de fé, (se eles são autênticos eleitos), mais cedo ou mais tarde, retornarão à comunhão com Deus. Como explicamos o que nos relata a Bíblia Sagrada, como também o testemunho acima citado pelo Pastor José Dantas Filho. No Ensino calvinista diz que se uma pessoa cai em apostasia ou não mostra mais sinais de arrependimento genuíno, pode ser prova de que nunca foi salvo, e em seguida, que não fazia parte do numero dos eleitos e é realmente assim que nos ensina varias doutrinas bíblicas principalmente em Romanos e Efésios.

Contudo o oitavo item do nosso sistema doutrinário diz que nós cremos: Na missão soberana e pessoal do Espírito Santo, no arrependimento, na regeneração e na santificação dos genuínos cristãos e citamos justamente textos que nos levam para uma proposta de santificação progressiva, e até dizemos que temos a obrigação de realizarmos boas obras porque somos salvos e não para nos salvarmos. Jo 3.3-7; 16.7-11 II Co 5. 17; Ef 1.13-14 e Tt 3.5; podemos citar vários outros textos.

O escritor Carlos Pinheiro Queiroz ao escrever As Faces de um Mito, na Pg. 85 a 93, relata a cerca das convicções doutrinárias de João Vicente de Queiroz um dos pioneiros e fundadores da igreja: diz o seguinte. Em 1932, foi um ano de fortes mudanças, foi neste ano que João Vicente de Queiroz tomou a decisão de sair da Assembleia de Deus, ainda no mês de junho. Sua leitura bíblica abria horizontes para entendimento da salvação numa ótica calvinista, embora não conhecesse praticamente nada sobre a história e postulados doutrinários de Calvino. O enfoque de João Vicente Queiroz nesse aspecto envolvia tão somente a doutrina da salvação. Para ele e para nós hoje: O crente, uma vez salvo, salvo para sempre. Os contrários a essa doutrina atribuíam na época a mudança de João Queiróz a influencia do Pastor Manoel Higino de Souza durante a visita que João Vicente de Queiroz fez ao Pr. Manoel Higino de Souza no interior do Rio Grande do Norte principalmente em Mossoró. Foi nesse cenário que ambos se conheceram, Manoel Higino de Souza a inda na Assembleia de Deus no ano de 1931.

João Vicente de Queiroz recebeu as orientações de Manoel Higino para acompanhar alguns protestantes no pequeno povoado do Moreno no município de Carnaúbas. Há informações de que Manoel Higino era um Homem muito ungido, conhecedor das Escrituras. Trocou com Queiroz suas ideais sobre a salvação eterna do crente genuíno. Havia uma espécie de casamento entre o aspecto prático de Queiroz perceber esse tema com a sistematização de Manoel Higino de Souza. Mas não é só isto. João Vicente de Queiroz como também, Eustáquio Lopes da Silva e Manoel Higino de Souza tiveram esse contato mais profundo com os protestantes presbiterianos.

Na verdade Manoel Higino de Souza quando chegou a Mossoró teve esse contato com alguns cristãos de origem presbiterianos na cidade de Mossoró. João Vicente de Queiroz também teve esse contato com as escrituras, mas também com os presbiterianos no Estado do Ceará e quando chegou ao Rio Grande do Norte, com Manoel Higino de Souza. Assim aconteceu com Eustáquio Lopes da Silva. Veja o depoimento de João Vicente de Queiroz: no mesmo ano conheci Pastor Eustáquio Lopes da Silva, homem de pele negra, filho de escrava, talvez o mais dedicado á leitura entre os obreiros da igreja na época. Manoel Higino e Eustáquio Lopes da Silva sistematizavam bem melhor do que eu o tema que Santo Agostinho chamava de justificação pela fé sem o concurso do mérito próprio.

Ele prossegue dizendo Manoel Higino de Sousa e Eustáquio Lopes da Silva eram muito queridos em todos os lugares que passavam. João Vicente de Queiroz já tinha algumas ideias sobre a salvação do crente genuíno, mas não com a mesma facilidade dos dois. Foi no encontro que teve em Mossoró que trocaram muitas ideias sobre o assunto, João Vicente de Queiroz aprofundou-se sobre a doutrina da justificação pregada por Santo Agostinho, seguida por Lutero e Calvino, é nesse contexto das Igrejas históricas que surgimos como igreja de Cristo no Brasil.

Nesse contexto a Igreja de Cristo é uma denominação de moldura pentecostal, fundada no Nordeste brasileiro, em Mossoró Rio Grande do Norte no dia 13 de dezembro do ano de 1932. O seu surgimento dá-se em função de uma dissidência na Assembleia de Deus, e por questão doutrinária é uma igreja genuinamente nordestina, historicamente caracteriza-se como a primeira igreja evangélica nativa brasileira, é uma igreja com características singulares, foi à terceira denominação pentecostal que se estabeleceu no país, a primeira denominação protestante a ser administrada por uma liderança totalmente brasileira e nordestina.

Foi também a primeira igreja produto de uma dissidência dentro do pentecostalismo nascente do Brasil. No segundo concílio da igreja de Cristo no Brasil, realizado em Mossoró-RN o Concílio que participou vários obreiros, eles tomaram uma decisão importante sobre dois temas como o batismo cristão que não deveria se repetir mesmo tendo sido batizado por aspersão á não ser quando o batizando reivindicasse por imersão. Como vimos também quando era celebrada a Ceia do Senhor esses dois sacramentos deveriam ser mantidos pela fé e pelo amor. Eles aprenderam com Goodman segundo o relato de Manoel Higino de Souza no segundo Concílio. Estudos bíblicos da Igreja Presbiteriana 16 de dezembro de 1934 Pg. 192.

A igreja de Cristo no Brasil é uma Igreja que tem uma construção doutrinária, o Doutor e Pastor também sociólogo, Alexandre Carneiro, relata em sua tese de Mestrado com o título A Trajetória da Luta Pelo Poder no Pentecostalismo o caso da Igreja de Cristo no Brasil Pg.88. Relata que a Igreja de Cristo no Brasil incorpora o ethos protestante reformado e convercionista.

Ao pesquisar sobre esse tema vejam o que encontramos de comentários sobre o principal líder e outros que construíram a nossa Igreja e doutrina. João Bosco de Sousa 2007 diz que os dois primeiros grupos pentecostais estiveram sozinhos até 1932. Até que um dos maiores expoentes da Assembleia de Deus o Pastor Manoel Higino de Sousa por divergências internas sai da Assembleia de Deus e Organiza em Mossoró no Rio Grande do Norte a Igreja de Cristo no Brasil.

Já no Site da missão sueca no Brasil comenta: no início dos anos 30, nasceu no Nordeste do Brasil a Assembleia de Cristo, formada por obreiros nacionais entre eles Manoel Higino de Souza, que passaram a crer que “uma vez salvo, salvo para sempre”, e continua um obreiro nacional leu um panfleto calvinista e começou a ensinar que aquele que aceitasse a Cristo não tem possibilidade de perder a salvação. Em outro comentário encontramos o seguinte: que na convenção de 1933, houve a exclusão dos pastores Adriano Nobre de origem presbiteriana e Manoel Higino de Souza por se envolverem com novas doutrinas.

Num outro Site encontramos esse comentário: talvez o mais importante cisma tenha ocorrido em 1932, os Pastores Manoel Higino de Souza, e João Vicente de Queiroz, entre outros, saíram em defesa da salvação incondicional, proposta pelo calvinismo, divergindo da Maioria dos missionários suecos. A negativa do Missionário Nils Kastberg, quanto ao pedido da realização de uma convenção para tratar do tema, resultou na retirada dos adeptos do calvinismo para fundar a Assembleia de Cristo mais tarde, Igreja de Cristo no Brasil muito presente no Ceará.

É nesse contexto que nasce a Igreja de Cristo no Brasil, uma igreja em que Seu sistema doutrinário é Bíblico Reformado e Calvinista.

Este texto é parte do livro; Biografia da Igreja de Cristo no Brasil no contexto da evangelização brasileira escrito pelo pastor José Egberto Sátiro de Moura.  






5 comentários:

  1. Graça e Paz! Irei postar este texto no Blog da ICB em Campina Grande http://icbcg.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. A base de fé da ICB defende que a salvação não pode ser perdida, mas isso não é a mesma coisa que endossar a predestinação calvinista. Não há nada nas bases de fé que afirme que Deus escolheu uns para a salvação e outros para condenação. Apenas que, se alguém foi realmente alcançado pela Graça, esta é poderosa para completar a obra de salvação nesta pessoa.

    ResponderExcluir
  3. É interessante afirmar aqui que a IGREJA DE CRISTO NO BRASIL desde os seus primórdios até o presente tempo, jamais arvorou a bandeira calvinista e tão pouco arminiana. Nossa base ideo-teologica repousa sobre a interpretação direta dos textos sagrados, por parte dos nossos pioneiros, que resultou (sem previsao), neste ponto de equilíbrio entre as igrejas defensoras do calvinisno e as que defendem o arminianismo.

    ResponderExcluir
  4. É interessante afirmar aqui que a IGREJA DE CRISTO NO BRASIL desde os seus primórdios até o presente tempo, jamais arvorou a bandeira calvinista e tão pouco arminiana. Nossa base ideo-teologica repousa sobre a interpretação direta dos textos sagrados, por parte dos nossos pioneiros, que resultou (sem previsao), neste ponto de equilíbrio entre as igrejas defensoras do calvinisno e as que defendem o arminianismo.

    ResponderExcluir